Mário Sacramento |
[1968] Julho, 15
(...) A agitação em França parece ter perturbado muito o Eduardo Lourenço, que se diz em crise de revisão de todos os seus valores. Oxalá que frutuosa. (...)
(...) A agitação em França parece ter perturbado muito o Eduardo Lourenço, que se diz em crise de revisão de todos os seus valores. Oxalá que frutuosa. (...)
Julho, 17
(...) Estive a folhear o livro com depoimentos de intelectuais sobre o Vietname, que a Ulisseia publicou. Dos portugueses só o Eduardo Lourenço diz coisa que se veja. O Abelaira explora os paradoxos do costume, aceitáveis como ensaio, mas desagradáveis (e perturbadores) quando é o cidadão que fala: declara-nos a todos pró-americanos, sem curar da escuridão que tão «subtil» ironia derrama... (...)
Agosto, 7
O Eduardo Lourenço dedicou-me (e ao Luís de Albuquerque) o seu livro sobre a Poesia Neo-Realista. Sou um «mediador», parece! Sempre o procurei ser, de facto. Mas mal. Precisava de ler e fazer 100 000 vezes o que leio e faço para o conseguir ser de verdade.
Agosto, 14
(...) é importante o caderno que O Tempo e o Modo dedicou ao Casamento. (...) Os dois textos fundamentais são os do Alçada Baptista e Eduardo Lourenço, ambos notáveis – e notabilíssimo o segundo. A dialéctica inidivíduo-sociedade tem aspectos mais complexos, todavia. Como instituição, o Casamento reconhece o desfasamento biológico homem-mulher, quanto à puberdade. Mas ignora-o, no último terço da vida. E essa brecha é incolmatável, e tanto mais trágica, quando tudo funciona ou se teoriza como se ninguém se apercebesse dela (...).
*Mário Sacramento (Ílhavo, 1920 – Porto, 1969). Médico, escritor e político.
Os excertos que aqui se reproduzem foram inicialmente publicados na obra póstuma Diário, Col. “Obras de Mário Sacramento”, nº 1, Porto, Limiar, 1975, pp. 275-278, 295-302.