Jorge Fernandes Silveira
[De uma carta à Dona Mécia de Sena em que homenageio Eduardo Lourenço]
Salamanca, 13 de março de 2007
Minha querida Dona Mécia,
Escrevo-lhe às vésperas do nosso aniversário. Estou aqui desde o final de janeiro, para mais uma temporada de aulas. O interessante é que recebi a sua última carta exatamente na hora em que deixava a minha casa, no Rio, em direção ao Aeroporto. Vim a lê-la somente em Salamanca. O que teve um significado especial. Mesmo emocionante. Antes do início das aulas, estava convidado para um Congresso sobre as relações linguístico-culturais entre los “hermanos” ibéricos. A conferência de encerramento foi proferida por Eduardo Lourenço. Unamuno e a Morte. Um momento inesquecível. Não só pelo belo texto apresentado, mas, e sobretudo, porque o velho Professor terminava a sua leitura quase às lágrimas. Claramente o tema muito o emocionara. Havia ali uma evidência: o homem no tempo diante da morte. E, a meu ver, o Lourenço vivia intensamente a ideia, ou a imagem, do fim. Entre notáveis, na Aula Unamuno. Nesse momento o texto da sua carta, o relato da conferência do Sena, na mesma sala, anos atrás, deu um tom mágico, diria solene, majestoso, àquela noite fria salmantina.
Um feliz dia de aniversário.
Jorge [Fernandes da Silveira]
*Jorge Fernandes da Silveira, Professor Titular da Faculdade de Letras da UFRJ, onde se doutorou, em Literatura Portuguesa, em 1982.