segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sobre Zacuto Lusitano – um manuscrito do período brasileiro

por Maria de Lourdes Soares

1959´- Édouard parle au Congrès Luso-Brésilien;
fin du séjour à Bahia avant le retour à Montpellier pour un an.
Ensuite ce serait Grenoble (foto enviada gentilmente por Annie de Faria)





Além de atuar como um dos Secretários da Comissão Organizadora do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros (Salvador, 11 a 21 de Agosto de 1959, realizado sob o patrocínio da Universidade da Bahia e da UNESCO), Eduardo Lourenço de Faria (como então assinava) apresentou comunicações em três das oito Secções do evento: “O adolescentismo da moderna literatura portuguesa” (Secção A Literatura), que teve como Relator o poeta e crítico Jorge de Sena; “Fenomenologia e história de arte – O exemplo barroco” (Secção As Belas Artes), relatada por Mário Chicó, historiador de arte; e “O Brasil na obra médica de Zacuto Lusitano” (Secção As Ciências Médicas), cujo Relatório coube ao médico baiano Jayme de Sá Menezes.


Os dois primeiros textos foram publicados em Destroços (2004). Já o texto sobre o célebre médico português do século XVII, temática atípica no seu ensaísmo, permanece inédito, dele só se conhecendo a síntese publicada nos Resumos das Comunicações (Bahia, Agosto de 1959, p. 67), sem incluir “Lusitano” no título. Foi preciso aguardar mais de meio século para o manuscrito de “O Brasil na obra médica de Zacuto Lusitano” ser enfim “descoberto” durante os trabalhos do Projecto de Inventariação e Catalogação do Acervo de Eduardo Lourenço que decorre no âmbito das actividades do Centro Nacional de Cultura e com publicação prevista para o IV Volume das Obras Completas.

“É uma figura de aspecto severo e nobre, calvo, barbas à D. João de Castro e a grinalda de palavras que emoldura o retrato [gravura de Claude Audran] dá conta da sua qualidade de Lusitano, de que nunca abdicou e lhe ficou no nome, referindo-se ele sempre aos Portugueses como Lusitani nostri [...].”  Eduardo Lourenço




Após medicar durante trinta anos em Portugal, o judeu Zacuto Lusitano (1575-1642), «sem dúvida com sobrados motivos, de perseguição inquisitorial», radicou-se na bem informada Amsterdã por volta de 1624, próximo à época da criação da Companhia das Índias Ocidentais. Quando publicou sua Praxis Medica Admiranda (1ª edição 1634), Portugal e suas colônias ainda se encontravam sobre o domínio da Espanha (1580-1640) e as vilas de Olinda e Recife (Pernambuco) há apenas quatro anos haviam sido tomadas pelos holandeses (1630). Consultando um exemplar da 2ª edição da obra (não lhe foi possível consultar a primeira), de 1637, que lhe teria chegado às mãos por “acaso”, Eduardo Lourenço observou que os tratamentos com remédios exóticos referidos por Zacuto «dizem todos respeito à cidade de Pernambuco». Estes dados históricos são importantes, portanto, para esclarecer como as informações «então recentíssimas» sobre o uso medicinal de certas plantas pelos “brasilienses” chegaram tão rapidamente ao conhecimento do autor do referido Tratado de Medicina: «Zacuto pertencia a um meio e estava relacionado com gente para quem o interesse pelo que acontecia no Novo Mundo era natural e profundo».


Eduardo Lourenço ressaltou o pioneirismo da divulgação feita por Zacuto, considerando que as informações da sua obra, «possivelmente as primeiras a cursar a Europa em letra autenticada por uma autoridade em Medicina e em História da Medicina», constituem a pré-história da sistematização de Wilhelm Pies e George Marcgrave, que estiveram no Brasil durante o governo do conde Maurício de Nassau. A Pies (ou Piso) e Marcgrave, segundo um estudo do volume Medicina no Brasil consultado pelo ensaísta, coube «a glória da fase iniciadora dos conhecimentos médicos e dos estudos de história natural». Na mesma publicação, outro autor atribuirá esse papel a Gabriel Soares de Sousa e seu Tratado Descritivo do Brasil, de 1587, que permaneceu inédito até o século XIX, embora circulasse em cópias manuscritas na Europa. Zacuto «não esteve no Brasil» (tal como o cronista de Nassau, Caspar Barlaeus, muito presente no imaginário brasileiro a partir da citação de Euclides da Cunha em À Margem da História, 1909: «o doloroso apotegma – ultra equinotialem non peccavi – que Barlaeus engenhou para os desmandos da época colonial»), mas colheu-as «em primeira mão», autenticou-as e fez a sua apologia, «porventura a primeira deste gênero», com base em sua “experiência pessoal”. A sua atitude metodológica, embora não seja “científica” no sentido moderno do termo, merece este qualificativo, “no sentido baconiano ou renascentista”. Em suma, «é obra de ‘saber de experiência’, em sentido camoniano e não mero comentário estéril de fundo escolástico». Em seu Tratado apresenta as aplicações terapêuticas de produtos de origem americana, especialmente brasileira, com «caráter de novidade, sem referência a fonte escrita, como é seu costume». Há, contudo, «muitas referências às fontes clássicas, Hipócrates, Galeno, Averroes» e também a «todos os quase todos os grandes nomes da Medicina dos finais do século XVI e primeiro quartel do XVII [Vesálio, Falópio, Eustáquio, Santório, Fracastor[o], Jerónimo Fabrício de Aguapendente], prova da informação, do ecletismo, e da ausência de pré-juízo».


Lourenço apresenta as seis menções de Zacuto relativas ao Brasil: 1ª – o suco de Genibabo (jenipapo) para tratamento de alopecia; 2ª – casca cozida de Coqual para eliminar manchas da pele; 3ª – “unha” de uma gigantesca aranha venenosa, “semelhante à unha do pé do caranguejo”, para aliviar a dor de dentes; 5ª – bálsamo “De Capaivã (sic)” (copaíba) para facilitar o parto; 4ª e 6ª – além de referir aplicações terapêuticas de origem brasileira, têm a singularidade de relatar casos passados com naturais ou habitantes de Pernambuco: o de uma mulher com forte hemorragia, tratada com a erva Raiz da Serra torrada, e o de um mercador com terçã rebelde, que, de regresso a Pernambuco, curou-se graças ao bom clima e a uma mucilagem preparada com a polpa de um fruto da região, “antídotos” ímpares para combater diversos males.




A terceira e a sexta merecem mais comentários. O interesse da terceira, além de introduzir na descrição quase paradisíaca da natureza um ser monstruoso, mas de cujo veneno, prescrito na devida proporção, obtém-se o remédio, reside particularmente no fato de mencionar o relato de Pedro de Osmo na epístola enviada a Monardo, «e esta é a única fonte, embora citado indiretamente e colhida em obra de médico, do gênero crónica ou relato vivido, cuja ausência tanto surpreende num livro de um homem como Zacuto, português e que jamais menciona qualquer dos nossos grandes cronistas de quinhentos». Na sexta – «de todas a mais interessante e saborosa» segundo Lourenço – Zacuto faz “o louvor dos ares pátrios” e oferece uma pitoresca evocação, «embora genérica, do ‘habitat’ de um brasileiro rico do século XVII», que «chegando às costas do Brasil, recolheu-se a uma casa de campo e à floresta, recriando-se com o perfume maravilhoso das várias essências, ervas, plantas e refeito pelo dulcíssimo e gratíssimo sabor de múltiplos frutos que ali se dão sem qualquer cultura e revivescendo pelo temperado do ar e pela salubridade ficou melhor e menos atacado pelas úlceras, pela febre e pelo comichão. Finalmente, tendo usado de um certo fruto obteve saúde próspera». Este fruto tropical «que em língua brasileira é chamado Maracujao Hasu (sic)» – exótico ao olhar estrangeiro – é o maracujá-açu, nome de origem indígena: maracujá significa “comida na cuia” (devido à sua forma de vasilha) e açu, “grande”, qualifica a espécie. É impossível não associar a descrição feita por Zacuto, exaltando os “bons ares” da terra e a natureza exuberante, à imagem primeira do Brasil na Carta de Pero Vaz de Caminha e à presente em diversas fontes do século XVI – nas cartas dos jesuítas Nóbrega e Anchieta e nas obras de outros cronistas, como Gândavo, Cardim e Gabriel de Sousa.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Triste figura em Paris


  
O Diário da Manhã, a 30 de Abril de 1963, em editorial assinado pelo seu director Barradas de Oliveira, chamava a atenção dos leitores para a “Triste figura de Oposicionistas em Paris” feita na sessão de terça-feira passada de Les Mardis de Preuves. “Uma tristeza” concluía sem hesitar, tendo por base o relato que lhe tinha sido enviado “por um amigo”. Aos leitores deste jornal o director elucidava que «A revista Preuves faz às terças-feiras umas sessões em que vários oradores opinam e discutem sobre tema determinado. A da semana passada trataria de “Le Portugal d’aujourd’hui” e teria como oradores sobre diferentes aspectos do mesmo assunto: Situação económica: Francisco Ramos da Costa; Obscurantismo e vida cultural: António José Saraiva; Os cristãos e o regime: Eduardo Lourenço de Faria; Guerra e descolonização: Fernando Piteira Santos».

[Na primeira foto, tirada  em Genève no ano de 1964, Francisco Ramos da Costa, à esquerda, com Tito de Morais e Mário Soares, fundadores do Partido Socialista. Na foto à direita, António José Saraiva. A revista Preuves, editada pelo Congress for Freedom Culture e apoiada financeiramente pela CIA,
foi um espaço de encontro de intelectuais da esquerda não comunista]



Continuando o editorial, Barradas de Oliveira considera ter sido a sessão um “triste espectáculo” e é, naturalmente, severo nos juízos que faz dos oradores. Assim o «Dr. Francisco Ramos da Costa, apresentado como um economista brilhante, fez uma exposição confusa, atrapalhada, sem nível, com números estatísticos evidentemente falseados», enquanto o «Dr. António José Saraiva, anunciado como literato de palavra cintilante, começou por não cintilar na dicção que foi aflitiva. Depois atirou para a sala com todas as falsidades, ainda as mais abstrusas, que ocorreram à exuberância da sua fantasia esquentada». Mas o tom do editorialista muda por completo quando se refere ao terceiro expositor, considerando que o «Dr. Eduardo Lourenço de Faria fez uma conferência luminosa, inteligentemente conduzida, com a preocupação nítida de imparcialidade. Conferência de um professor e não de um político. Aplausos fortes da assistência e movimentos de reprovação dos outros conferencistas (Claro!)».



A identificação do “amigo” que de Paris havia enviado estas informações leva-nos a duas hipóteses a partir de documentos constantes da cópia do Dossier da Pide existente no Acervo de Eduardo Lourenço. O primeiro documento é uma carta datada de “Paris, 24 de Abril 1963” e enviada a César Moreira Baptista, à época director do SNI, por José Augusto dos Santos director da Casa de Portugal na capital francesa. E no que se refere à intervenção de Eduardo Lourenço observa: «Incontestavelmente, o único orador (de interesse) de toda a reunião. Começando por declarar que o tema que ia tratar seria “L’Église et le régime de Salazar” (e não “Les Chrétiens et le Régime”) […] o tom da sua exposição – serena, desapaixonada e bem conduzida – não agradou ao auditório que manifestava, por vezes, certa impaciência». Todavia, e como observação final, José Augusto dos Santos não deixava  de «notar que o Snr. Eduardo Lourenço de Faria não se referiu à última Encíclica papal que, entretanto, foi citada por outros, confusamente atirada para o ar, como uma pedra – melhor, como uma bandeira…»

A segunda hipótese de identificação do “amigo” informador de Paris pode ser feita através das informações que o jornalista A. Horta e Costa envia, a 24 de Abril de 1963, a Dutra de Faria, Director da A.N.I. e que transcrevemos em parte, uma vez que enumera os temas através dos quais a exposição foi feita: «Terceira Intervenção-conferência: Do Sr. Eduardo Lourenço de Faria (“Les Chrétiens et le Régime”). Conferência brilhante e elevado relato desapaixonado (foi o único da noite) das ligações existentes entre Salazar, o regímen salazarista e a Igreja. Exposição iniciada a partir do momento em que o Professor de Coimbra era colaborador do jornal Novidades, do momento em que este jornal publicou um retrato do Dr. Salazar encabeçando-o com o título de apresentação dum novo valor que se deveria chamar para a gerência nacional. Amizade estabelecida entre o Dr. Salazar e o Cardeal Cerejeira. Acordos entre o Governo e a Igreja. Influência da opinião e conselhos da Igreja para um menor endurecimento do Regímen. Primeiras dissenções baseadas e provadas (cito) na carta pastoral do Bispo do Porto, Dom António. Como já escrevi: conferência brilhante, impregnada de imparcialidade e de honestidade. Um relato histórico do qual o conferencista não procurou tirar ensinamentos limitando-se a expor, segundo a sua maneira de ver, factos susceptíveis de serem analisados. Fortemente aplaudido por toda a assistência. Movimentos de reprovação dos outros conferencistas». E Horta e Costa terminando o seu relato de todas as intervenções, finaliza a carta com o parágrafo seguinte: «Como vê, uma reunião sem interesse e, tenho a impressão, sem consequências. A existirem parece-me que elas serão benéficas para nós. Das três horas de contacto com esta elite da oposição, que dizem em Paris que será o núcleo de um possível futuro governo, não posso deixar de fazer votos para que Deus Nosso Senhor dê muitos anos de saúde ao Governo de Salazar. Confesso que esperava mais».

Interrogado Eduardo Lourenço como se poderia identificar no seu Acervo o texto que serviu de base a esta intervenção, ele afirmou não recordar a existência de um só texto até porque havia improvisado durante a sessão. Contudo, no início da década dos anos 60 este assunto acompanhara a sua reflexão e algumas páginas existiriam, haveria que procurar. Uma pesquisa posterior para reunir o material, na sua maioria inédito, que virá a ser incluído no Volume Tempo e Politica (com a organização de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi) das Obras Completas veio demonstrar factos importantes e nessa investigação foram essenciais duas cartas de Joaquim Barradas de Carvalho das quais se transcrevem alguns excertos. E pela sua leitura pudemos chegar a três conclusões:

1) Eduardo Lourenço pensou efectivamente abordar o tema inicial que lhe tinha sido proposto para a sessão, pois num conjunto de onze páginas, presas por um clips, na primeira escreve: «“Les Chrétiens et le Régime”. Si on pouvait prendre à la lettre le titre de mon intervention – titre qui m’a étè fourni pas les organisateurs amis de cette rencontre – ma tâche en serait simplifiée. Les “Chrétiens et le Regime”, deux abstractions face à face, tout deviendrait clair. La question, on s’en doute bien est tout autre et c’est celle-là la vraie question, ou tout au moins sa difficulté…»

2) O ms. que Barradas de Carvalho devolve, e do qual foram publicados alguns excertos no Jornal da Liga dos Direitos do Homem, permanece inédito na sua totalidade pois estando assinado com o pseudónimo “Marcos Portugal” facilmente terá fugido à atenção dos investigadores.

3) Existe no Acervo um conjunto de 26 pp. reunidas com o título “L’Église et l’État-Nouveau”. Ms. não assinado e por isso, certamente não concluído, seria este o texto a ser publicado na revista Esprit, após a conferência, conforme desejo manifestado por Barradas de Carvalho?
João Nuno Alçada



Duas Cartas de Joaquim Barradas de Carvalho
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Paris 8/IV/63



Caro Amigo

Não vou hoje penitenciar-me pelas cartas que lhe não escrevi e por tudo o que não fiz e devia ter feito relativamente ao meu amigo Eduardo Lourenço de Faria. O seu notável artigo L’Église et le régime de Salazar serviu para o Jornal da Liga dos D[irei]tos do Homem, onde saiu um excerto. Pelo mesmo correio, em envelope registado lhe envio o seu original, assim como o nº do dito Jornal. Mas o que me traz hoje a escrever-lhe, e urgentemente, (esta carta seguirá “expresso”) é uma sessão que se realizará em Paris no próximo dia 23 (3ª feira), numa sala próxima dos Campos Elíseos, e organizada por uma coisa chamada Congrès pour la Libérté de la Culture. […] Publicam uma revista luxuosa e bem feita chamada “Preuves” e dois dos franceses que estão aqui à frente da coisa são o François Bondy e o Tavernier. Enfim uma coisa “comme il faut” , em que não podemos ser acusados de comunismo. Ora esta organização faz todas as 3.as feiras sessões de apresentação de problemas seguidos de discussão. Houve há dois ou três meses uma sessão sobre a Espanha, em que fizeram exposições o Gil Robles, o Prados Duarte […] a Elena de la Souchère e o autor do Hino da Falanje […] Dionísio Ridurejo. A partir desta sessão houve quem se lembrasse de que Portugal também existia, e daí sermos convidados a uma sessão sobre Portugal na 3ª feira, 23 de Abril. O Mardi-Preuves de 23 de Abril intitular-se-á Le Portugal d’Aujourd’hui e farão exposições de 15 a 20 minutos, seguidas de discussão, as seguintes pessoas […] Está o meu amigo de acordo com o este programa e com a sua colaboração? Pedia que me mandasse dizer urgentemente. Se possível por telegrama […]

Cá esperamos o seu telegrama com uma resposta afirmativa o seu amigo fixe

Joaquim Barradas de Carvalho



P.S.

Mando-lhe em envelope separado o seu texto que me parece óptimo para a sessão de 23 e um nº do Jornal da Liga dos D[irei]tos do Homem

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Paris, 16 /IV/63



Caro Amigo

Duas palavras apenas para lhe dizer que cá o esperamos na próxima 2ª feira, 22. A sessão é na 3ª feira, 23 à noite, O Congresso para a Liberdade da Cultura e a revista “Preuves”, pagam-lhe a viagem de ida e de volta e dois dias de hotel em Paris. Foi isto que me disse o Tavernier há poucos dias. Cada exposição não deve demorar mais de 15 a 20 minutos. A sua intitula-se “Les Chrétiens et le Régime”. Será depois publicada pela Revista “Preuves”. Convinha que você fizesse depois um artigo no género daquele que me mandou e que eu lhe devolvi para a revista “Esprit”. O Echevarria em tempos disse-me que Você queria aumentar e corrigir esse texto. Foi esta a razão porque eu não fiz força para que ele saísse no “Esprit” […]



Com os cumprimentos a sua Mulher, um abraço do amigo fixe

Joaq[uim] Barradas de Carvalho

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Esta noite, na Casa Camilo Castelo Branco em Famalicão





Esta noite, Eduardo Lourenço é o convidado da Sessão de Fevereiro de ”Um Livro, Um Filme”, feliz iniciativa levada a cabo pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, através da Casa de Camilo, e que decorre no auditório do Centro de Estudos, em S. Miguel de Seide. O filme escolhido pelo ensaísta é “Deus Sabe Quanto Amei/Some Came Running” (1958) de Vincente Minnelli, com Frank Sinatra, Dean Martin e Shirley MacLaine. Mais informações em http://www.camilocastelobranco.org/

Para aguçar o apetite, Ler Eduardo Lourenço deixa aqui um link que permite aceder ao trailer original do filme: http://www.tcm.com/mediaroom/index.jsp?cid=2527

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Duas breves notas à margem de À margem das revoluções islamistas...






Ler Eduardo Lourenço não esconde que tem uma predilecção especial por inéditos (de preferência antigos...) e por textos pouco conhecidos. Mas uma das marcas que, ao mesmo tempo, mais aprecia no ensaísmo de Eduardo Lourenço é a sua capacidade (que, quase diariamente, manifesta) em pensar a actualidade sem cair no actualismo. E assim ajudar os nossos dias a ficarem menos insuportáveis...


À margem das revoluções islamistas..., que aparece hoje na página 29 do Público (vale a pena ir ao quiosque mais próximo, passe a redundante publicidade), é o primeiro texto de Eduardo Lourenço na nossa imprensa diária desde há quase meio ano. Talvez isso justifique a tão entusiástica quanto precipitada chamada da capa do jornal que anuncia: «Eduardo Lourenço escreve sobre o Abril islâmico».










Ora, o que realmente se pode ler (mas esta expressão encerra em si mesma todo um infindável questionamento...) neste magnífico artigo é provável que seja algo bem diverso do que uma simples declaração de boas vindas ao clube da modernidade iluminista das revoluções europeias de que a nossa, a portuguesa, teria sido a última. Se não, repare-se: «A nossa euforia e natural alegria com o Abril islâmico, vendo bem, é uma versão inconsciente da eterna vocação de querer "converter" ou ilustar os famosos infiéis»[sublinhados nossos].

Por isso, e assim termina o ensaio, «é mais interessante supor que [esses jovens revolucionários islamistas] já estão para além desse fosso, real mas não fatal, que em termos históricos e políticos se criou entre o Oriente e o Ocidente». Para o bem e o para o mal. Deles, certamente. Mas talvez sobretudo do nosso.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

De Maria Gabriela Llansol

De Maria Gabriela Llansol, uma carta. Mas, primeiro e sobre Maria Gabriela Llansol, também um magnífico texto que Maria de Lourdes Soares teve a simpatia  e a generosidade de oferecer a Ler Eduardo Lourenço e em que a autora, pela segunda vez (cf. o anterior ensaio “Encontros de confrontação que nos faltam. Eduardo Lourenço e Maria Gabriel Llansol”, Colóquio-Letras, nº 170, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Janeiro de 2009, pp. 147-162), se debruça especificamente sobre as relações literárias entre a escritora e o ensaísta. Dois documentos imperdíveis, portanto.

Eduardo Lourenço e Maria Gabriela Llansol:
carta a um legente

“que Cultura corresponde a um tal Texto
não é fácil dizê-lo”            
Eduardo Lourenço
(imagens retiradas do excelente blog http://espacollansol.blogspot.com/ e que documentam as Segundas Jornadas LLansonlianas de Sintra, realizadas em Setembro de 2010, no Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra e que contaram também com a participação de Eduardo Lourenço).



“tinha a certeza de que, tarde ou cedo, nos havíamos de encontrar”
Maria Gabriela Llansol



Eduardo Lourenço foi um dos primeiros a perceber a fulgurância ímpar da escrita de Maria Gabriela Llansol. Com a alegria e o deslumbramento de um descobridor que de súbito se depara com uma terra «fascinante e incógnita», saudou, no final do ensaio “Con-texto cultural e novo texto português” [escrito em 1979 e publicado em O Canto do Signo. Existência e Literatura (1957-1993), Lisboa, Presença, 1994, p.280-283], o seu encontro com O Livro das Comunidades [Porto, Afrontamento, 1977].
Quando se conheceram pessoalmente em Paris, por ocasião do Belles Étrangères de 1988, dedicado a Portugal, Llansol e Lourenço, cada qual a seu modo, por diferentes caminhos de leitura e de escrita, há muito vinham pensando sobre Portugal e sua pertença à cultura europeia. Além da experiência de viver fora do seu país e da prática do bilinguismo, ambos tinham outros pontos em comum, como o cuidado de assinalar o local e a data dos textos, e algumas afinidades eletivas – Pessoa/Aossê, Camões/Comuns, Jesus/Joshua... (e mais tarde teriam também Vergílio/o Mais Jovem). 
A escritora fez duas intervenções nesse evento, a primeira na FNAC e a outra na Sorbonne (cujo texto, redigido em francês, enviou a Lourenço junto com a carta de 23/12/1988), posteriormente incluídas em Lisboaleipzig 1 com os títulos “Nós estamos de volta” e “Por que não pude deixar de vir”, respectivamente [Lisboa, Rolim, 1994, pp. 88-96]. Nesse evento, Maria Gabriela também pela primeira vez se encontrou “face a face” com seu futuro “companheiro filosófico”, Vergílio Ferreira, a quem chamaria “o Mais Jovem” e daria um corpo de fulgor, incorruptível, em Inquérito às Quatro confidências [Lisboa, Relógio d’Água, 1996, p. 31].
O ano deste encontro foi intenso, sob diferentes perspectivas. Em 1988 Lourenço publicou Nós e a Europa e recebeu o Prêmio Charles Veillon pelo conjunto de sua obra. Também em 1988, e não por acaso, «ainda na euforia inicial das comemorações dos descobrimentos», Llansol publicou Da sebe ao ser, procurando contornar o paradigma de mais-pátria” e “mais-oceano”. Este livro, como a escritora comentaria em O Senhor de Herbais [Lisboa, Relógio d’Água, 2002, p. 80], não teve praticamente recensões críticas, salvo a (excelente) de António Guerreiro, As Fábulas da História [Expresso, 8/4/1989]. Antes e depois da publicação de Da sebe ao ser foram atribuídos alguns prémios a Llansol. Não os esperava ou desejava. Aceitou-os porque os tomou «na sua acepção radical de fraternidade entre nós diante do sentido, como um momento em que partilhamos um dos bens da Terra», o da partilha-convívio de «quem escreve e lê, em mútuo», permitindo assim que os textos «cheguem mais longe» [Lisboaleipzig 1, pp. 85-87].  Desejava, portanto, criar «um lugar real de escrita e de leitura», conforme declarou em carta aberta a Eduardo Prado Coelho [Ciberkiosk, nº 7, 1999].
Lourenço não escreveu a recensão sobre Da sebe ao ser que lhe solicitara Maria Rolim, editora de Llansol na época. Todavia, foi deixando sinais de que continuava a lê-la atentamente. Em ensaio de 1997, “Em torno do nosso imaginário”, voltaria a escrever sobre a autora: «De Agustina Bessa-Luís a Maria Gabriela Llansol a ficção moderna portuguesa desprendeu-se da poética – entre nós de frágil tradição – do realismo, sob todas as suas formas, e entregou-se ao mesmo tipo de pulsão que inunda a nossa poesia». Sobre a obra de Llansol dirá: «o seu conteúdo é a sua forma e a sua forma uma viagem num ficcional sem outro referente além de outros imaginários». E também, no final, ao comentar sobre a «vocação consciente ou inconscientemente antirrealista» do imaginário português, exemplificará como um dos «nossos dons e o nosso gosto de contornar a realidade» o da autora de Inquérito às Quatro confidências, «tomando a letra e o seu espaço onírico com o seu tempo infinitamente reversível, como a realidade mesma, rasurando com serena provocação a distância imaginária entre poesia e prosa» [A Nau de Ícaro seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia, Lisboa, Gradiva, 1999, p. 93-101].
Ainda no ano de 1997, entre as páginas capazes de traspassá-lo como flecha em pleno coração e ao mesmo tempo fazê-lo sentir-se em sua própria casa – a do imaginário em língua portuguesa –, incluem-se as do “enigma claro” de Maria Gabriela Llansol, como referiu em entrevista [Atlantis, Lisboa, 1997, p. 76].  Em outra entrevista concedida no ano da morte da escritora, ao responder sobre o autor em relação ao qual se sentia em dívida profunda, Lourenço citou o nome de Llansol, reafirmando a admiração por seu texto, “poesia da mais alta”, «sem se oferecer imediatamente com esse valor da poesia», e arriscando prever que ela será «o próximo grande mito literário português» [Ler, nº 72, Lisboa, Círculo de Leitores, Setembro de 2008, pp. 38-39].
Assim seja. Já começou a ser. Não no sentido do mito-Pessoa – da «projeção maiúscula que [...] paralisa, e [...] assombra», como dirá Llansol [Um falcão no punho, Lisboa, Rolim, p. 93] –, e sim no sentido do que significou para a rapariga que temia a impostura da língua a criada Maria Amélia – Maria Adélia, em Um beijo dado mais tarde [Lisboa, Rolim, 1990], e Engrácia, em Causa Amante: «A Engrácia chamava-lhe Mélito; agora, que aprendi a decompor as palavras compreendo que era ‘meu mito’ que lhe chamava». A Engrácia pediria, como quem envia uma carta ao legente ou lhe pede um beijo, «que pusesse os livros em circulação, [pois] livro escrito seria livro lido» [Lisboa, A Regra do Jogo, 1984, p. 77 e 94], no desejado e possível lugar real de escrita e leitura. Com a criada que lhe franqueava a biblioteca do pai e as portas do imaginário, protegendo-a com o seu amplo e generoso corpo de linguagem, a rapariga/Llansol/Témia aprendeu a abrir acesso a outras concepções de real: «Quando essa criada me contava estórias, e a criança, por ser muito inteligente, lhe respondia, ‘mas, Amélia, isto não existe’, ela dizia-lhe ‘menina, não diga que não existe, porque não sabe, procure onde está’» [“No Espaço Llansol”, Entrevista por João Mendes, Público, 28/06/1995, p. 4]. Esta lição de extrema claridade é fundamental para se começar a desfazer o seu “suposto hermetismo” [Llansol, Carta a Lourenço, 23/12/1988]. [MLS]

Uma Carta de Maria Gabriela Llansol






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Colares,
23 de Dezembro
de 1988

                                Caro amigo,

Junto lhe envio o meu texto da Sorbonne que pediu à Drª Maria Rolim. Faço-o com muita alegria, na lembrança do nosso encontro em Paris, e pela real amabilidade e apoio que, na altura, me manifestou.
Conheci-o com muito prazer. Tinha a certeza que, mais tarde ou cedo, nos havíamos de encontrar.
Soube também que a Drª Maria Rolim lhe solicitou que escrevesse para o Expresso uma recensão sobre “Da sebe ao ser”. Acho que é altura de deixar de ser vista como escritora hermética. Muito desse suposto hermetismo deve provir, creio eu, da falta de coordenadas de leitura. A maior parte dos portugueses cultos – ou assim ditos – não leram talvez o que eu li. O que não se viveu de idêntico, não se pode suprir, mas as bibliotecas podem ser progressivamente substituídas. Penso que o Eduardo poderá ajudar os outros a ler-me.
Desejo-lhe um bom Ano de 1989.

            Com um abraço
Muito amiga,

      MGab
      Llansol

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Correspondência com Delfim Santos (1958-1959)




Entre o material que tem vindo a ser descoberto e organizado por João Nuno Alçada (a partir da documentação existente na antiga casa de Vence do ensaísta: cf. fotografia em cima), no já aqui tantas vezes mencionado projecto realizado no âmbito do Centro Nacional de Cultura, conta-se um valioso número de cartas que Eduardo Lourenço recebeu de imensas figuras da cultura contemporânea portuguesa (e não só...). Ler Eduardo Lourenço dá hoje conta, através de uma muito pequena parcela, da correspondência mantida com Delfim Santos, publicando o teor de duas cartas: uma expedida, a outra recebida. A Filipe Delfim Santos, que presentemente prepara o volume Delfim Santos e o Brasil, dedicado às relações que o seu Pai, Delfim Santos (numa foto inédita de 1953, em baixo), manteve com intelectuais que viviam do outro lado do Atlântico, muito agradece Ler Eduardo Lourenço a cedência, a transcrição e as respectivas notas da missiva de Eduardo Lourenço  (um documento que, com muito gosto,  aqui se publica, juntamente com a transcrição da resposta de Delfim Santos) e sobretudo a nota introdutória que redigiu para contextualizar este material ainda inédito. Para saber mais sobre a obra e a figura de Delfim Santos, aconselha-se vivamente a visita de http://www.delfimsantos.org/.


«Já desde o primeiro semestre de 1957 que o Reitor da Universidade da Bahia, Edgar Santos, envidava esforços através do Instituto de Alta Cultura (IAC) para obter “um ou dois professores de Filosofia”, dado que o titular, José Antônio do Prado Valladares (1917−1959), ensaísta, jornalista, crítico e historiador de arte e museólogo não era propriamente professor de Filosofia e tinha além do mais recebido uma bolsa do IAC para estagiar em Portugal no ano de 1958. Valladares ainda regressaria a Salvador a tempo de participar na criação do Museu de Arte Sacra do Convento de Santa Teresa, integrado na Universidade da Bahia por ocasião do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros (10.08.59), mas morreria pouco após em 23.12.59 em acidente aéreo perto do Rio de Janeiro.

Em Fevereiro de 1958, o ministro da Educação, [Francisco] Leite Pinto recusou autorização ao catedrático da Secção de Pedagógicas da Faculdade de Letras de Lisboa para partir em Março com os seus colegas por motivo da incumbência que lhe fizera de elaborar o plano do futuro Instituto Superior de Ciências Pedagógicas, mas outras gestões foram mais bem sucedidas pois segundo informação oral de Eduardo Lourenço «por intermédio de Hernâni Cidade, que estava também na Bahia, foi referido o meu nome. Eu estava como leitor em Montpellier e arrisquei porque a minha mulher estava de licença da Universidade. Depois não quis mais arriscar porque poderia pôr em causa a carreira dela e ao fim de um ano decidi voltar para França. Enquanto lá estive e por minha recomendação foram chamados Agostinho da Silva e Adolfo Casais Monteiro, dois colegas de Delfim Santos na antiga Faculdade de Letras do Porto».

Nemésio, em 24 de Maio de 1958, já instalado na capital baiana, anunciava a Delfim: “Chegou há dias o Eduardo Lourenço de Faria que ficou logo assustado quando ouviu que um docente do grupo perfaria 24 tempos semanais! Falso rebate... Os colegas brasileiros vêm depressa à razão. Aquilo é um absurdo do regime oficial dos estudos que não temos de cumprir (é claro). Eu tenho 5 aulas por semana − e chega, com os suores que destilo”.

Tendo Delfim Santos adiado a sua partida para agosto de 1958, acabaria por declinar definitivamente a proposta por razões que se prenderam com a doença de sua Mãe. “− Não ter acedido ao convite foi a sorte do seu Pai − disse-me um dia Eduardo Lourenço −, as condições eram péssimas e ao exigir sair do hotel onde me hospedavam (Hotel da Bahia) para acomodações próprias senti que estava a constranger o reitor Edgar dos Santos, e este não era homem para ser constrangido de forma alguma. Então no ano seguinte vim-me embora”. Para além dos problemas de alojamento também a assiduidade e interesse dos discentes não satisfizeram Eduardo Lourenço; a viúva de Delfim Santos recorda um episódio que o marido lhe transmitiu das queixas que o jovem professor, chegado à Bahia com 35 anos, teria feito em visita a casa daquele, após terminada a experiência: ao perguntar certo dia “− Porque não veio ninguém à aula de ontem?” − recebeu resposta pronta “− Ué, tava chovendo, Professô!”. [Filipe Delfim Santos, 25 de Janeiro de 2011]




Documento nº 1: De EDUARDO LOURENÇO para DELFIM SANTOS, 12.58

[cartão postal] [impresso: Sinceros Agradecimentos e os melhores Votos para um Feliz Ano Novo]


Bahia, Natal de 58

Senhor Doutor:

Será que o próximo ano o trará até estes largos mortos, [alusão à imagem impressa no verso do postal, o Largo do Cruzeiro de São Francisco, no Pelourinho, São Salvador da Bahia] cheios de luz e ouro da nossa ex-colónia? Entre os vários votos que faço para o seu Novo Ano este é o mais imediato. Não são paragens muito propícias à recepção da Filosofia, mas não deixam de ser evocativas e de nos reenviar a um tipo de meditação estranhamente contrastante com o espírito deste continente aistórico que de todo o coração a repudia. E é isto sobretudo que nos obriga a pensar até se a Filosofia não é fenómeno estritamente europeu, de artificial transplantação em outras paragens. Para prova pode dizer-se que tudo quanto pensa aqui, a nosso modo, é de raiz europeia, emigrados de uma ou duas gerações.

Apesar disso convém enraizar mesmo o enraizável, na medida das nossas posses. É possível que dadas as facilidades do Magnífico Edgar, Reitor da Bahia inteira, se possa publicar aqui uma Revista de Filosofia. Aqui, mas com substância de alhures. Será um pouco traiçoeiro aproveitar um cartãozinho festivo para lhe pedir a sua necessária colaboração? O Senhor Doutor já o sabe: a projetada Revista está inteiramente ao seu dispor e por ela antecipadamente lhe agradeço.

Renova-lhe os seus melhores votos, ao Senhor Doutor e Ex.ma Família, com um abraço amigo o

E. L. Faria

Eduardo Lourenço de Faria

Edifício Mariglória, ap. 404

R. Padre Feijó

S. Salvador – Bahia




Documento nº 2: De DELFIM SANTOS para EDUARDO LOURENÇO, 09.02.59

[original manuscrito]

[O envelope tem o carimbo da Estação dos Correios do Largo do Rato, em Lisboa, com a seguinte data «9 Fevr. 59. 16h00» e o endereço: «Ex.mo Dr. Eduardo Faria, Edifício Mariglória, Ap. 404, R. Padre Feijó, S. Salvador da Bahia, Brasil». No verso do envelope Eduardo Lourenço anotou «Resp. 30-3-59», porém não foi encontrada ainda a carta de resposta].

Meu caro Eduardo Faria:

Os melhores agradecimentos pelos seus votos. Parece que sim, que irei à Bahia por ocasião do Colóquio, mas a certeza ainda não a tenho pois as secretarias ainda nada disseram de positivo. Pelo que me diz continua intrepidamente o seu ofício de cavador, isto é, teimosamente a transplantar raízes que já prometem mostrar o tronco em forma de revista. Decerto que pode contar comigo quando a hora chegar de mostrar os primeiros frutos. Este metaforismo botânico foi-me sugerido pelo seu cartão. Isto por aqui continua como sabe. O anunciado Instituto Superior de Educação que me tem aqui retido todo este tempo ainda não se vislumbra. Dificuldades e mais dificuldades. Espero a oportunidade de longa conversa diante de algum vatapá só para agosto. Se antes precisar de mim avise. Isto é, se a revista aparecer antes dessa data, o que não julgo muito possível. Cumprimentos a sua Esposa e o abraço amigo do seu

Delfim Santos


Fev. 59

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Jeudi 10 février, 19 h, Salle du Senat Palais de Rumine à Lausanne






Não sendo uma espécie de agenda virtual, Ler Eduardo Lourenço tenta sempre que possível dar notícia das múltiplas actividades que considere relevantes. É o caso manifestamente do que irá ocorrer amanhã à noite no magnífico Palais de Rumine na cidade suiça de Lausanne. Integrado no ciclo de conferências Voix lusophones… Portugal et ailleurs, que decorre até Junho (e que inclui participações, entre outros, de Lídia Jorge e Gonçalo M. Tavares), Eduardo Lourenço profere uma conferência com o título Mythologie de la Saudade. Em seguida transcrevemos o texto que consta do programa oficial. Se por mero acaso algum dos nossos leitores estiver por perto, fica assim a saber...


Mythologie de la Saudade/Conférence d'Eduardo Lourenço
Jeudi 10 février 2011 - 19h00 - Palais de Rumine - salle du Sénat
Conférencier(s) / animateur(s): Eduardo Lourenço
«Notre destin d'errance a donné à cette nostalgie, à cet écartèlement douloureux de nous-mêmes, tout son poids de tristesse et d'amertume, et au souvenir de la maison abandonnée, ce goût de miel et de larmes que le mot saudade évoque pour nous tous Portugais.»
Pour comprendre pourquoi tout un peuple se reconnaît dans la saudade, cette mélancolie à la fois triste et heureuse, Eduardo Lourenço va prendre en considération le «temps portugais» - celui de l'Histoire et celui de l'âme. Eduardo Lourenço, né en 1923 au Portugal, est historien et philosophe. Son oeuvre d'essayiste, couronnée par le prix européen de l'essai Charles Veillon en 1988 et le Prix Camões en 1996, est une interrogation constante sur le destin culturel et historique du Portugal.
A l'issue de la conférence, un concert du choeur Manga Rosa accompagné d'un verre de l'amitié vous seront offerts.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Prémio Vergílio Ferreira 2011 para Maria Alzira Seixo

Há mais de uma década que Universidade de Évora atribui o Prémio Vergílio Ferreira, distinção que visa simultaneamente homenagear o autor de Aparição (cuja acção se desenrola precisamente nesta cidade e evoca a passagem de Vergílio como Professor no Liceu eborense) e reconhecer os méritos de grandes figuras da literatura portuguesa. A lista dos premiados é vasta e especialmente notável: Mia Couto (1999), Almeida Faria (2000), Eduardo Lourenço (2001), Óscar Lopes (2002), Vítor Aguiar e Silva (2003), Agustina Bessa-Luís (2004), Manuel Gusmão (2005), Fernando Guimarães (2006),Vasco Graça Moura (2007), Mário Cláudio (2008), Mário de Carvalho (2009) e Luísa Dacosta (2010).
No presente ano o Prémio Vergílio Ferreira foi atribuído a Maria Alzira Seixo, conforme se pode ler em nota do Júri enviada à imprensa (cf. http://www.ueline.uevora.pt/).
Ler Eduardo Lourenço assinala o acontecimento duplamente. Por um lado, recordando a cerimónia de 2001, por motivos óbvios.




Por outro, sublinhando que Maria Alzira Seixo dedicou a Eduardo Lourenço vários ensaios importantes. Ler Eduardo Lourenço relembra, por exemplo, que um dos poucos escritos dedicados ao livro Espelho Imaginário (e dessa escassa recepção por diversas vezes o ensaísta já se lamentou) foi precisamente redigido pela premiada deste ano. O estudo com o título “O espelho imaginário ou a música da imagem”, apareceu pela primeira vez em Prelo-Revista da Imprensa Nacional/Casa da Moeda (n.º especial, Lisboa, Maio de 1984, pp. 43-49). Em outras ocasiões, Maria Alzira Seixo escreveu sobre o seu amigo Eduardo Lourenço. Talvez um dos mais surpreendentes e felizes desses textos seja aquele que aparece na já aqui referida revista Metamorfoses e que a seguir reproduzimos, com os sinceros votos de parabéns pela mais do que justa consagração:

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Dois Eduardos no Rio

Ler Eduardo Lourenço já se referiu em ocasião anterior a Eduardo Prado Coelho: para além de tudo o mais, grande leitor e amigo. Ora, a Professora Gilda Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e a quem os amigos do pensamento de Eduardo Lourenço devem, entre tantas outras coisas, o magnífico nº 4 da revista Metamorfoses (UFRJ-Caminho, 2003), com o extenso dossier Os trabalhos e os dias, enviou-nos um texto, lido em 1990 nessa mesma Universidade, em que Eduardo Prado Coelho apresenta Eduardo Lourenço. Na foto, retirada de http://www.paginaliterariadoporto.com/, aparecem os dois ensaístas com o poeta Albano Martins, sentado à esquerda, precisamente na Livraria Camões no Rio, nesse mesmo ano. A esta gentileza, que Ler Eduardo Lourenço muito agradece, a Professora Gilda Santos acrescentou uma outra não menor, redigindo uma breve e excelente nota de enquadramento que em seguida também se publica.



Certamente não foram poucas as oportunidades que aproximaram Eduardo Lourenço e Eduardo Prado Coelho em encontros científicos, pelos vários cantos do globo. Contudo, ainda que incorrendo no risco de não ser original, pareceu-me de interesse ressuscitar das páginas de esquecidos Anais as palavras belas e exatas com que o mais jovem Eduardo apresentou o seu xará mais velho num encontro no Rio de Janeiro, nos idos de 1990. Tratava-se do “XIII Encontro de Professores Universitários Brasileiros de Literatura Portuguesa”, promovido pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre 30 de julho e 3 de agosto, cabendo a conferência inaugural a Eduardo Lourenço, que nos apresentou seu texto “Dois fins de século”, hoje no livro O Canto do Signo - existência e literatura.
No revisitar dessas palavras, a homenagem justa aos dois Eduardos, dois amigos em pleno [Gilda Santos].

EDUARDO LOURENÇO
Não se trata de apresentar Eduardo Lourenço. Inútil, redundante, impossível.
Quando muito, situá-lo em torno de algumas palavras.
A primeira palavra é heterodoxia. No momento em que, em Portugal, a situação interna de ditadura fascista e a guerra fria apontavam para a crispação de linguagens dogmáticas, Eduardo Lourenço soube, sem ambigüidades nem compromissos, desenvolver um discurso de heterodoxia: releitura de Hegel e Marx, acentuação da importância de Nietzche ou Kierkegaard, valorização do pensamento existencial, incluindo certos aspectos do existencialismo cristão, atenção a Sartre ou Camus.
A segunda palavra é identidade. Ou, se preferirem, caracterização da identidade cultural portuguesa. Aí um livro é fundamental: O labirinto da saudade. Mas o propósito, enunciado no subtítulo, que indica que se trata de “uma psicanálise mítica”, não era o do comprazimento numa problemática obsessiva da mítica identidade nacional, mas libertação disso, como se isso fôra, na sua obsessão, uma figura de doença. Refletindo sobre o destino português, Eduardo Lourenço não podia deixar de se confrontar com os problemas que resultam da nossa integração num espaço europeu – história longa e enredada, que é ao mesmo tempo o rosário da nossa relação com a Modernidade. Daí um livro recente, premiado com o Prêmio Charles Veillon, atribuído ao melhor ensaio europeu em 1989, que se intitula Nós e a Europa ou as duas razões.
As incidências literárias desta problemática levam-nos inevitavelmente para dois dos autores centrais no ensaísmo de Eduardo Lourenço: Camões e Fernando Pessoa. Em relação a Pessoa, que revisitou numerosas vezes, devemos-lhe uma leitura inovadora e desmitificante. Mas de Pessoa à Modernidade européia e portuguesa, o trajeto era óbvio. Pessoa como ontologia negativa da literatura, à luz do niilismo contemporâneo, da negatividade da linguagem, da descontinuidade da consciência. O que traça uma reflexão constante sobre os limites da razão – contra as ilusões, no modelo Sérgio, de um racionalismo que elimina o vazio, o nada e o trágico. Mas o niilismo que diagnosticou nos seus sucessivos estratos não apagou a permanência de uma atitude de Esquerda que sempre se configurou, em numerosos textos políticos, como esperança socialista.
Simultaneamente, Eduardo Lourenço é o grande acompanhador da literatura portuguesa contemporânea – no sentido em que cada autor encontrou nele um foco de inteligibilidade generosa e amiga.
Para concluir, salientaria apenas três coisas:
– a capacidade de colocar qualquer questão num espaço em que nos sentimos implicados no mais fundo das nossas inquietações e interrogações;
– uma imensa generosidade do pensamento, um gosto de pensar, pensar em voz alta e pensar com os outros, a partir da provocação dos outros;
– na ausência de receitas, que seria absurdo esperar, Eduardo Lourenço dá-nos a certeza de que, quando alguém é capaz de pensar com esta evidência e com esta energia, alguma coisa se desloca em nós e nos faz aproximar daquilo que é mais perfeito, mais contagiante e mais justo.

Eduardo Prado Coelho
[Texto de apresentação de Eduardo Lourenço lido no XIII Encontro de Professores Universitários Brasileiros de Literatura Portuguesa, Rio de Janeiro, Univ. Federal do Rio de Janeiro, 30 de Julho a 3 de Agosto de 1990].

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Porquê assinar e datar os textos que escrevo?

No entender de Ler Eduardo Lourenço, é talvez uma das suas mais completas e interessantes entrevistas (está disponível em http://static.publico.pt/docs/cultura/eduardolourenco/01.html) ao autor de O Labirinto da Saudade. Entre outros vários temas de indiscutível curiosidade e que justificam uma (re)leitura do diálogo, o ensaísta explica a Luis Miguel Queirós quais os motivos que o levam a assinar, datar e  identificar o local onde escreve os seus textos.
Eis um excerto dessa conversa que foi editada na Revista Pública (edição de domingo do jornal Público) em 13 de Maio de 2007 e de onde retirámos também uma cópia da extraordinária caricatura de Vasco que acima apresentamos.

«LUIS MIGUEL QUEIRÓS: Os seus livros são organizados segundo lógicas temáticas e não está em causa a sua coerência interna. Mas estou a pensar, por exemplo, nos volumes sobre questões europeias. Na Europa Desencantada há um texto escrito em 1992 e outro em 2000. Entre ambas as datas, mudou muita coisa na Europa.
EDUARDO LOURENÇO: Exacto. Já as próprias edições desses livros noutras línguas, em francês ou espanhol, têm diferenças entre elas. Há uma espécie de organização caótica. Claro que as datas têm importância. Na política, as coisas às vezes mudam numa questão de dias. Já deve ter reparado que costumo assinar os textos, mesmo os que saem na imprensa, com a palavra “Vence” seguida da data. É uma coisa de que não gosto muito, porque parece um bocado pedante, mas quando se trata de comentar assuntos actuais, sobre os quais muitos outros vão escrever – e tendo em conta o tempo que passa entre a redacção do texto, o envio para Portugal, e a publicação –, prefiro não estar sujeito a que depois digam que copiei alguém. É uma preocupação um bocado idiota, mas a razão é esta.»

Para ilustrar, um exemplo retirado do manuscrito de “Escrita e Morte”, texto que serviu de prefácio à reedição conjunta na Assírio & Alvim dos dois (primeiros) volumes de Heterodoxia.


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Correspondente de Arte de "O Comércio do Porto" (nº 1)

Na segunda metade do século passado, não havia diário do Porto ou de Lisboa que dispensasse a sua página literária especializada que lá aparecia semanal ou quinzenalmente. Nesta evocação nada há de nostálgico, mas a verdade é que os tempos eram outros...
Ler Eduardo Lourenço sabe (ou, pelo menos, julga saber, porque quase todos os dias descobre novidades!)  que a colaboração do ensaísta com o suplemento Cultura e Arte do matutino O Comércio do Porto durou rigorosamente quinze anos. De facto, a 24 de Abril de 1956, aparece nas páginas do jornal portuense o artigo “Alguns doutrinários e críticos literários depois de Moniz Barreto. O Historicismo Moral de Fidelino de Figueiredo” que, apesar de ser o primeiro texto publicado por Eduardo Lourenço no referido suplemento, não foi, ainda assim, o primeiro que foi enviado. Sobre essa e outras desventuras falará Ler Eduardo Lourenço  proximamente, noutros episódios dedicados a este tema.

Por agora, chama-se apenas a atenção para uma carta, escrita e enviada por Costa Barreto a 25 de Junho de 1955 (daí os rigorosos quinze anos...), paciente e infatigável responsável pelo suplemento Cultura e Arte que, por indicação de Joel Serrão (também aí colaborador), convida o na altura Leitor de Português na Universidade de Heidelberg a fazer parte do rico e vasto leque de co-autores de Cultura e Arte. Apesar de alguns percalços, a verdade é que o convite foi aceite e Eduardo Lourenço escreveu múltiplos textos durante década e meia, pois, tanto quanto foi possível apurar, a segunda parte do artigo “Chateaubriand ou a Literatura como Impostura Triunfante”, dada à estampa em 8 de Setembro de 1970, terá sido a derradeira colaboração com  O Comércio do Porto.

Em suma, Ler Eduardo Lourenço é levado a concluir que o novo Correspondente de Arte na Alemanha desculpou a modéstia da quantia a pagar «por cada artigo ou crónica».

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Literatura e Guerra Colonial

Meio século depois da eclosão da guerra colonial em Angola, é tempo de se fazer um balanço do tempo que nos separa de tão decisivo e violento acontecimento da nossa história colectiva recente. Ler Eduardo Lourenço assinala que o tema do colonialismo português sempre mereceu a atenção do ensaísta mesmo antes de 1961 e até aos nossos dias. Em nota ontem publicada pela agência noticiosa Lusa e que em seguida transcrevemos, Eduardo Lourenço discorre sobre as relações entre a nossa literatura e a guerra golonial. Na imagem, reencontramos o actor Luís Miguel Cintra, em cena de Non ou a vã glória de mandar, filme de Manoel de Oliveira estreado em 1990 e que, em parte, evoca também este acontecimento marcante do nosso tempo.

Lisboa, 01 fev (Lusa) – Os romances de escritores como António Lobo Antunes e Lídia Jorge contribuíram para “fixar o essencial dessa tragédia da história de Portugal” que foi a Guerra Colonial, segundo o filósofo Eduardo Lourenço.
“Os romances de António Lobo Antunes, por um lado, e de Lídia Jorge, por outro, são obras importantes como romances, como ficção, e ao mesmo tempo, como uma revisitação e uma rememoração do drama que, de uma maneira diferente, esses dois romancistas refletem”, disse à Lusa o pensador, quando se aproxima o cinquentenário do início da guerra em Angola, a 04 de fevereiro de 1961.
Na verdade – defendeu – “há toda uma ficção portuguesa que, mesmo antes que o drama da Guerra Colonial eclodisse, já previa que alguma coisa ia acontecer”.
Por exemplo, “uma espécie de antecessor de toda essa situação é o [Fernando Monteiro de] Castro Soromenho (1910-1968), que é hoje um autor que não é muito conhecido, autor [da trilogia] do Camaxilo (publicada entre 1949 e 1970) e de outras obras, que era um modesto funcionário em Angola e percebeu que se estava ali a gerar qualquer coisa que um dia seria um drama, uma tragédia”, apontou.
Outro, ainda nos anos 1940, foi o historiador de arte José-Augusto França, que publicou “um belo romance” de estreia em 1949, intitulado “Natureza Morta”, “um pouco uma coisa ainda Presencista” que se debruçava sobre a violência do colonialismo português em Angola.
Para Eduardo Lourenço, “apesar de efetivamente haver uma distância não só física, mas uma distância mental, entre a consciência que a Metrópole tinha dela própria e a pouca consciência que tinha do que se estava a passar no chamado Império, a verdade é que também alguma coisa sempre se soube do que era África, do que ela representava, sem falar de toda uma literatura de tipo neo-colonialista, que se escrevia para exaltar aquilo que as colónias representavam para nós”.
Na sua opinião, “em termos de ficção, de facto, os primeiros romances do Lobo Antunes são os romances em que o essencial dessa tragédia da história de Portugal já está fixado”.
“Eu sei que há outros romances, mas não os conheço, de maneira que não posso falar deles”, acrescentou.
Segundo o pensador, há ainda um problema por resolver: “o que é essencial é que, passado meio século do momento em que começa essa fase final do nosso Império, a Metrópole pensa que esse problema não está resolvido. Quer dizer, ainda não há uma vivência coletiva”.
“Parece que só com a série documental intitulada ‘A Guerra’, realizada pelo jornalista Joaquim Furtado, sobre a Guerra Colonial, é que, pela primeira vez, os portugueses se deram conta do que estava em jogo. Embora seja a título póstumo, infelizmente, mas estas coisas são assim”, observou.
“A verdade – prosseguiu – é que essa contribuição é preciosa para a auto-consciência que os portugueses têm desse ex-Império perdido, dessa luta inglória e fratricida, de algum modo, e até contrária àquilo que era a nossa veleidade, que o Império ia do Minho até às praias de Moçambique”.
“Mas a verdade é que, quando veio esse confronto, os moçambicanos, os angolanos e os guineenses puseram em causa esse laço colonial, realmente a Pátria foi de uma grande inconsciência e foi uma tragédia, uma tragédia nacional de que é sempre bom que se tenha uma imagem, uma ideia mais exata para que não caiamos noutras aventuras com o mesmo grau de inconsciência”, sublinhou.
ANC.
Lusa/fim