segunda-feira, 27 de maio de 2013

Pensar Nove Décadas de Amizade (nº 77): Luciana Stegagno Picchio*


 Luciana Stegagno Picchio


(...) O ensaio está para a monografia ou a panorâmica como o conto para o romance. Deve ter princípio, meio e fim. Denunciar em abertura a tese e defendê-la: com clímax e tudo. Nisto Eduardo Lourenço sempre foi mestre. Porque na base da sua formação está o filósofo: e filósofo no sentido restrito da palavra, capaz sempre de apoiar numa sólida plataforma teórica, toda a experiência feita, as argumentações com que irá construindo os seus ensaios, literários, políticos ou sociológicos não importa.

(...) Declarou uma vez Eduardo Lourenço ter ele, a certa altura, abandonado a filosofia em favor da literatura em virtude da presença nesta de uma realidade mais conforme ao sentido geral que ele procurava da vida e do mundo.
Mas este é o caminho seguido por uma parte significativa dos filósofos nossos contemporâneos, que para abrir diálogo com uma plateia mais ampla que a dos antigos especialistas, passaram a dedicar-se, e já sem pretensões de absoluta objectividade, a assuntos mais próprios da vida concreta dos indivíduos, usando além disso na sua escrita de todos os recursos retóricos e estilísticos peculiares à moderna ficção.



*Luciana Stegagno Picchio (Alessandria, Piemonte, 1920-2008). Professora Universitária, Filóloga, Historiadora da Cultura, Crítica Literária. 
O texto que aqui se reproduz é um excerto “Um mestre do ensaio com formação de filósofo”, incialmente publicado em Jornal de Letras, Artes e Ideias, 7/VII/1992, pp. 8-10.