segunda-feira, 27 de maio de 2013

Pensar Nove Décadas de Amizade (nº 76): José Blanco*






Entre todos os grandes exegetas pessoanos, Eduardo Lourenço é, sem qualquer espécie de dúvida, o que melhor soube interpelar o Mistério-Fernando Pessoa, embora em 1986 tenha confessado a Inês Pedrosa : “desconfio de toda a gente que me vem dizer que Fernando Pessoa foi isto ou aquilo... Eu não sou capaz de dizer o que é que Fernando Pessoa foi”. Dezassete anos mais tarde, em 2003, revelou a José Carlos de Vasconcelos: “O Pessoa tornou-se-me num caso patológico de osmose, glosa, fixação, uma espécie de Deus inimigo íntimo com quem tem de se combater e de que nunca se sai. No Pessoa está tudo. A obra em que estou mais presente, embora através de outro, é no Fernando Pessoa Revisitado”, escrito num impulso em 23 dias. Nesse livro está tudo o que eu penso e sou, falando da forma mais distanciada e íntima de mim próprio. É o meu romance”. Será talvez por essa razão que Eduardo Lourenço é o principal “protagonista” da bibliografia pessoana que publiquei em 2008: ela inclui nada mais nada menos do que 93 verbetes da sua autoria e, ao longo das páginas do volume o seu nome aparece 170 vezes. No momento em que completa 90 brilhantes anos de idade, aqui fica o meu abraço fraterno e grato ao maior Pessoano vivo, que ao longo dos anos, me tem feito compreender Fernando Pessoa e me tem honrado com a sua amizade.


*José Blanco, Investigador, Ensaísta. 
Texto inédito enviado gentilmente pelo Autor para Ler Eduardo Lourenço