Conforme se pode ler em informação da Lusa que, com a devida vénia, se passa a citar, Eduardo Lourenço regressou à Casa de Mateus, em Vila Real no âmbito de um seminário com o objectivo de Repensar Portugal.
«A situação actual do país é uma “espécie de pesadelo momentâneo”, mas confia que irá ser ultrapassado porque “a barca Europa não deixará Portugal afundar-se”. Este é o retrato de Portugal feito pelo ensaísta e professor universitário, Eduardo Lourenço, no Encontro PensarRE Portugal, em Vila Real, a que a Lusa assistiu.
Para Eduardo Lourenço, a actual crise económica foi “uma surpresa” e o país foi apanhado “num tsunami de ordem económico-financeira cujo centro é a Europa”. Mas, Lourenço retira dramatismo à situação pois, quando se pensa no que foi o passado português, a verdade é que Portugal já atravessou problemas semelhantes e sempre conseguiu superá-los.
Ou seja, a história de Portugal é uma espécie de “milagre contínuo” porque os portugueses vivem numa “oscilação constante entre uma crença de estabilidade e um desânimo total”. Neste momento, Portugal está “na vertigem de poder desaparecer” e o país parece não ter “piloto a bordo” ou provavelmente “tem vários”.
Sem dramas, mas com ironia: “As pessoas que visitam Portugal não imaginam na aflição em que estamos porque parecemos ricos”. Os portugueses estavam “convencidos” de que, entrando na Europa, parte das dificuldades do país se iriam resolver porque “tinham acesso a uma casa rica e mesmo sendo convidados de última hora iam mudar de estatuto. Essa era a convicção”. Ressalva, no entanto, que os cidadãos podem estar descontentes com o que se passa entre Portugal e a Europa, mas «“e não entrássemos nesta experiência europeia estaríamos muito pior”»[Lusa].
«A situação actual do país é uma “espécie de pesadelo momentâneo”, mas confia que irá ser ultrapassado porque “a barca Europa não deixará Portugal afundar-se”. Este é o retrato de Portugal feito pelo ensaísta e professor universitário, Eduardo Lourenço, no Encontro PensarRE Portugal, em Vila Real, a que a Lusa assistiu.
Para Eduardo Lourenço, a actual crise económica foi “uma surpresa” e o país foi apanhado “num tsunami de ordem económico-financeira cujo centro é a Europa”. Mas, Lourenço retira dramatismo à situação pois, quando se pensa no que foi o passado português, a verdade é que Portugal já atravessou problemas semelhantes e sempre conseguiu superá-los.
Ou seja, a história de Portugal é uma espécie de “milagre contínuo” porque os portugueses vivem numa “oscilação constante entre uma crença de estabilidade e um desânimo total”. Neste momento, Portugal está “na vertigem de poder desaparecer” e o país parece não ter “piloto a bordo” ou provavelmente “tem vários”.
Sem dramas, mas com ironia: “As pessoas que visitam Portugal não imaginam na aflição em que estamos porque parecemos ricos”. Os portugueses estavam “convencidos” de que, entrando na Europa, parte das dificuldades do país se iriam resolver porque “tinham acesso a uma casa rica e mesmo sendo convidados de última hora iam mudar de estatuto. Essa era a convicção”. Ressalva, no entanto, que os cidadãos podem estar descontentes com o que se passa entre Portugal e a Europa, mas «“e não entrássemos nesta experiência europeia estaríamos muito pior”»[Lusa].
A notícia da Lusa não se refere, no entanto, ao facto de nos dias 7, 8 e 9 Julho de 1978 cerca de cinquenta personalidades da vida portuguesa terem participado numa reunião nessa mesma Casa de Mateus que teve o mesmo tema ou, pelo menos, um título extremamente parecido com o seminário que, por estes dias, decorre também em Vila Real.
Em crónicas assinadas respectivamente por Joaquim Letria e por Helena Vaz da Silva para o número 116 da revista Opção, pode ler-se que a intervenção de Eduardo Lourenço teve alguns laivos de polémica. Por um lado, Letria sublinha que o ensaísta denunciou em tom de protesto «a ausência de certos sectores do PS, do PC, da UEDS, enfim, de vastos sectores da esquerda portuguesa» (Opção, 13/VII/1978, p. 22), ao mesmo tempo que se interrogava se o encontro não significa antes de mais «o lançamento de uma nova classe política» (Ibid., p. 21). Ora, se se recordar quais os participantes neste primeiro Repensar Portugal (designação que parece ter sido inspirada no título homónimo de um artigo de Eduardo Lourenço na revista Abril e que veio a consituir um capítulo de o Labirinto da Saudade, publicado semanas antes, e que por sua vez irá ser também o nome de um livro, editado no ano seguinte, de Manuel Antunes, que também esteve na Casa de Mateus), encontrar-se-ão inúmeros protagonistas da vida política, cultural e económica portuguesa das últimas décadas.
Por outro lado, se os futuros Presidentes da República Mário Soares, ao centro na foto, e Jorge Sampaio, à direita, não estiveram presentes há trinta e três anos na Casa de Mateus (talvez fizessem parte daqueles sectores da esquerda cuja ausência Eduardo Lourenço então criticou), já Vitor Constâncio (à esquerda) participou activamente nos trabalhos, fazendo parte do painel com o nome de Modelos de Desenvolvimento. Como se sabe, Constâncio era então Ministro das Finanças de um Governo liderado por Mário Soares e, mais tarde, será o futuro Governador do Banco de Portugal por duas ocasiões: entre 1985 e 1986 e durante a quase totalidade da primeira década do presente século (2000-2009).
Ora, Helena Vaz da Silva informa-nos que o então jovem Ministro socialista terá mantido aceso diálogo com Eduardo Lourenço, reproduzindo na referida reportagem-crónica partes das intervenções de ambos.
Assim, Vítor Constâncio afirmou: «Nenhum povo pode viver sem uma imagem positiva de si próprio que lhe dê um mínimo de confiança e de orgulho nacional. O nosso povo sempre teve um grande pessimismo em relação a si próprio. O que me preocupa é a forma de superação disso. Muitas vezes, na reflexão dos nossos intlectuais prevalece um desconhecimento das condições económicas objectivas que criam uma situação difícil que não pode ser superada ao nível da mera reflexão filosófica. Assumindo a consciência da nossa modéstia penso que devemos pensar em termos mais prosaicos a construção dessa imagem realista, que inclui o esforço, o trabalho e outras condições necessárias para superar o problema económico... E penso que há algo de mórbido neste tipo de reflexão sobre a identidade nacional...» (Ibid., p. 25)
Estas palavras parecem ter um destinatário muito preciso: Eduardo Lourenço que responde, por assim dizer, à provocação.
«Não enjeito a acusação de ter contribuído para uma mitificação da revolução portuguesa. Não só não enjeito, como reinvindico o coeficiente de utopia, de esperança utópica falhada. Quando eu falo de imagem irrealista que os portugueses têm vivido, refiro-me à imagem irrealística que uma parte da classe política dá hoje... e que é bem evidente quando se lê a imprensa portuguesa com os seus títulos, os seus exageros. O que me preocupa nos políticos não é tanto a continuidade manifesta de imagens irrealistas mas uma insuficiente consciência desse irrealismo» (Ibid.).
Ler Eduardo Lourenço não quer aqui entrar num pseudo-debate entre economistas e filósofos, mas julga que hoje é possível encontrar exemplos de irrealismo quer numa, quer na outra área do cohecimento. E não resiste a dizer que há algo de mórbido em alguns dos episódios da história recente da economia portuguesa.
Ora, Helena Vaz da Silva informa-nos que o então jovem Ministro socialista terá mantido aceso diálogo com Eduardo Lourenço, reproduzindo na referida reportagem-crónica partes das intervenções de ambos.
Assim, Vítor Constâncio afirmou: «Nenhum povo pode viver sem uma imagem positiva de si próprio que lhe dê um mínimo de confiança e de orgulho nacional. O nosso povo sempre teve um grande pessimismo em relação a si próprio. O que me preocupa é a forma de superação disso. Muitas vezes, na reflexão dos nossos intlectuais prevalece um desconhecimento das condições económicas objectivas que criam uma situação difícil que não pode ser superada ao nível da mera reflexão filosófica. Assumindo a consciência da nossa modéstia penso que devemos pensar em termos mais prosaicos a construção dessa imagem realista, que inclui o esforço, o trabalho e outras condições necessárias para superar o problema económico... E penso que há algo de mórbido neste tipo de reflexão sobre a identidade nacional...» (Ibid., p. 25)
Estas palavras parecem ter um destinatário muito preciso: Eduardo Lourenço que responde, por assim dizer, à provocação.
«Não enjeito a acusação de ter contribuído para uma mitificação da revolução portuguesa. Não só não enjeito, como reinvindico o coeficiente de utopia, de esperança utópica falhada. Quando eu falo de imagem irrealista que os portugueses têm vivido, refiro-me à imagem irrealística que uma parte da classe política dá hoje... e que é bem evidente quando se lê a imprensa portuguesa com os seus títulos, os seus exageros. O que me preocupa nos políticos não é tanto a continuidade manifesta de imagens irrealistas mas uma insuficiente consciência desse irrealismo» (Ibid.).
Ler Eduardo Lourenço não quer aqui entrar num pseudo-debate entre economistas e filósofos, mas julga que hoje é possível encontrar exemplos de irrealismo quer numa, quer na outra área do cohecimento. E não resiste a dizer que há algo de mórbido em alguns dos episódios da história recente da economia portuguesa.