De regresso de um passeio breve abro a cancela do jardim e deparo comigo absorto diante do cipreste que projecta a magra sombra no branco da casa. Assim, distraído de mim, no intervalo de nada, descobri num segundo que são as coisas que nos amam e não o contrário. Em silêncio amparam-nos por existir sem ter existência e esta calada vida é um olhar pousado sobre nós. Um aceno sem olhos, um abraço sem mãos. De quem?
“O romance diário de Eduardo Lourenço”, Público-Magazine de Público, Lisboa, 21/IV/1996, p. 48 [Vence, 3 de Fevereiro de 1991].