terça-feira, 7 de junho de 2011

Não sei que poema entrou como um ladrão na minha alma

Escola Primária de São Pedro do Rio Seco onde Eduardo Lourenço aprendeu as primeiras letras (Foto Ler Eduardo Lourenço, Maio 2011)


«[...] Não sei que poema entrou como um ladrão na minha alma. Pode nem ter sido uma daquelas singelas poesias de João de Deus que, como a Engeitadinha, figurava na minha selecta como exemplo da lusíada comoção da arte da tristeza da vida. Ou alguma do Junqueiro, como a abertura do Os Simples, no mesmo registo mas mais optimista. Mas pensando bem, talvez nada me tenha deixado mais perplexo, abrindo-me a porta do sonho, que uma mera frase destinada a ilustrar o uso do no meu primeiro livro de escola: O filho do Zeferino foi a casa dos filhos da mãe do Zebedeu. Nessa hora fora da vida toda a poesia do mundo estava inteira neste enigma prosaico. E ainda hoje lá permanece.»*
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
* Excerto do prefácio que Eduardo Lourenço redigiu para o número 21 da colecção, dirigida por José Cruz dos Santos, os poemas da minha vida (Lisboa, Público, 2006, pp. 7-8). Nessa antologia, Eduardo Lourenço incluiu poemas de Petrarca (traduzido por Vasco Graça Moura), Luís de Camões, S. João da Cruz (por Jorge de Sena), Novalis (por Fiama Hasse Pais Brandão), Baudelaire (por Jorge de Sena e por Fernando Pinto do Amaral), Antero de Quental, Cesário Verde, Camilo Pessanha, António Machado (por José Bento), Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, José Régio, Miguel Torga, Adolfo Casais Monteiro, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen, Carlos de Oliveira, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny, Alexandre O'Neill, António Ramos Rosa, António Osório, Ruy Belo, Pedro Tamen, Armando Silva Carvalho, Gastão Cruz, Vasco Graça Moura, Al Berto, Nuno Júdice e Paulo Teixeira.