Na segunda metade do século passado, não havia diário do Porto ou de Lisboa que dispensasse a sua página literária especializada que lá aparecia semanal ou quinzenalmente. Nesta evocação nada há de nostálgico, mas a verdade é que os tempos eram outros...
Ler Eduardo Lourenço sabe (ou, pelo menos, julga saber, porque quase todos os dias descobre novidades!) que a colaboração do ensaísta com o suplemento Cultura e Arte do matutino O Comércio do Porto durou rigorosamente quinze anos. De facto, a 24 de Abril de 1956, aparece nas páginas do jornal portuense o artigo “Alguns doutrinários e críticos literários depois de Moniz Barreto. O Historicismo Moral de Fidelino de Figueiredo” que, apesar de ser o primeiro texto publicado por Eduardo Lourenço no referido suplemento, não foi, ainda assim, o primeiro que foi enviado. Sobre essa e outras desventuras falará Ler Eduardo Lourenço proximamente, noutros episódios dedicados a este tema.
Por agora, chama-se apenas a atenção para uma carta, escrita e enviada por Costa Barreto a 25 de Junho de 1955 (daí os rigorosos quinze anos...), paciente e infatigável responsável pelo suplemento Cultura e Arte que, por indicação de Joel Serrão (também aí colaborador), convida o na altura Leitor de Português na Universidade de Heidelberg a fazer parte do rico e vasto leque de co-autores de Cultura e Arte. Apesar de alguns percalços, a verdade é que o convite foi aceite e Eduardo Lourenço escreveu múltiplos textos durante década e meia, pois, tanto quanto foi possível apurar, a segunda parte do artigo “Chateaubriand ou a Literatura como Impostura Triunfante”, dada à estampa em 8 de Setembro de 1970, terá sido a derradeira colaboração com O Comércio do Porto.
Em suma, Ler Eduardo Lourenço é levado a concluir que o novo Correspondente de Arte na Alemanha desculpou a modéstia da quantia a pagar «por cada artigo ou crónica».