Como Ler Eduardo Lourenço já anunciara vai realizar-se, na próxima quarta-feira, dia 5 de Novembro, pelas dezoito horas, na Casa da Escrita em Coimbra o lançamento público do II Volume das Obras Completas de Eduardo Lourenço que tem o título Sentido e Forma da Poesia Neo-Realista e Outros Ensaios. O volume, coordenado cientificamente por António Pedro Pita e que é também o autor do importante Prefácio “Inventar o Sentido do Tempo – Eduardo Lourenço e o 'Neo-Realismo' como problema”, foi organizado em torno do livro quase homónimo de 1968, no qual o ensaísta estuda três poetas de Coimbra (ou, pelo menos, com fortes vínculos à cidade onde todos estudaram), a saber: João José Cochofel, Joaquim Namorado e Carlos de Oliveira. Mas esta edição inclui ainda, como o seu título explicita, muitos textos menos conhecidos de Eduardo Lourenço, a maioria deles dispersamente publicados ao longo de mais setenta anos e outros que são mesmo inéditos absolutos. A apresentação da obra será realizada por Rosa Maria Martelo, Professora Associada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, mas também poeta e ensaísta de méritos amplamente reconhecidos. Usarão ainda da palavra António Pedro Pita e, como é óbvio, o próprio Eduardo Lourenço.
No dia da formatura de Fernando Namora, eis João José Cochofel e outros Amigos de ambos (foto Casa da Escrita) |
Refira-se que, através da Casa da Escrita a Câmara Municipal de Coimbra recuperou a antiga moradia da família de João José Cochofel, situada no número oito da Rua João Jacinto. O projecto (aliás belíssimo) de arquitectura dessa recuperação é de autoria de João Mendes Ribeiro. Sobre essa casa quase mítica e na qual, ao contrário do que se costuma supor, Eduardo Lourenço não foi visita tão assídua como isso, o ensaísta escreveu, na década de Oitenta, o seguinte, num texto que agora integra este II Volume: «a magnífica casa de João José Cochofel, a sua largueza constituía para esse grupo uma espécie de lar e centro cultural. Havia algum picarismo nessa boémia neo-realista de que quase todos nós aproveitávamos, mesmo os não íntimos de Cochofel, como era o meu caso» (p. 366). Por outro lado, na cerimónia de inauguração da Casa da Escrita estiveram presentes, entre outros, Maria Barroso, Arquimedes da Silva Santos e … Eduardo Lourenço que afirmou então: «Foi nos meus 19, 20 anos que conheci esta casa. E foi pela mão de Carlos de Oliveira que entrei em contacto com este grupo do Novo Cancioneiro. Esta casa foi o castelo de sonhos de toda uma geração que não aceitava a realidade só por ser realidade e que pensava que o mundo precisava de ser alterado, modificado, desconstruído», (“Casa da Escrita abriu portas em Coimbra”, Público, 29/XI/2010, p. 25).
Em suma, uma ocasião imperdível para, num local magnífico e cheio de simbolismo, poder ouvir falar sobre o ensaísmo de Eduardo Lourenço, com a presença do ensaísta.