quinta-feira, 17 de março de 2011

What We Talk About When We Talk About Eduardo Lourenço

Ler Eduardo Lourenço defronta-se por vezes com o problema de explicar ao leitor não-português (ou melhor, ao não-leitor de livros em português) a importância e a singularidade do pensamento do ensaísta. Felizmente que existem em cada vez maior número edições em língua estrangeira de livros de Eduardo Lourenço (cf. http://www.eduardolourenco.uevora.pt/), embora muito haja para fazer nesta área tão sensível e tão importante. Sem querer comparar aquilo que não é evidentemente da ordem da comparação, poder-se-ia perguntar qual seria a projecção internacional da obra de um autor como Kierkegaard, cuja influência se fez sentir decisivamente no existencialismo do século XX, sem o trabalho inestimável dos seus tradutores? Qual seria a repercussão internacional do filósofo de Temor e Tremor se os seus livros tivessem permanecido apenas disponíveis em língua dinamarquesa? Coisa semelhante se poderia afirmar em relação a Fernando Pessoa cuja dimensão universal, hoje facilmente reconhecida, dependeu, como é óbvio, da edição dos seus textos em inglês e francês, por exemplo. Ora, enquanto a tarefa dos tradutores (para usar a famosa expressão de Walter Benjamin) continua o seu longo e tantas vezes pouco reconhecido caminho, que há nesta altura de disponível para, em poucas linhas, apresentar Eduardo Lourenço em inglês?
Onésimo Teotónio de Almeida

Ler Eduardo Lourenço considera que existe pelo menos um texto que cumpre excelentemente esse propósito. Haverá com certeza outros. Pouco importa. A entrada que Onésimo Teotónio de Almeida redigiu para a monumental (2156 páginas!) Encyclopedia of the Essay, dirigida por Tracy Chevalier e editada pela Fitzroy Dearborn Publishers em 1997 (desconhece-se se há uma edição mais recente), constitui um modelo de concisão e rigor, pois em poucos parágrafos explica o ensaísmo de Eduardo Lourenço de uma forma ao mesmo tempo didáctica (no bom sentido do termo) e pessoal. Ler Eduardo Lourenço aprecia especialmente o termo entrada pois vê nele exactamente o sentido de uma porta que se pode abrir para outras leituras. Por isso, com a devida vénia, aqui se reproduz Lourenço, Eduardo, ao mesmo tempo que se recomenda a consulta de “O ensaio à Eduardo Lourenço. Existo, logo penso (e sinto)” [Colóquio-Letras, nº 170, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Janeiro de 2009, pp. 113-117] em que o autor da entrada, para além de apresentar o motivo pelo qual enquadra Eduardo Lourenço numa talvez inesperada tradição ibérica, narra algumas das peripécias que o levaram a escrever apenas três dos seis capítulos que pretendia publicar em Encyclopedia of the Essay.