Antonio Sáez Delgado - Prémio Eduardo Lourenço 2014 (foto CEI) |
Na passada quinta-feira, ao fim da tarde, a Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço na Guarda acolheu uma sessão que ficará para sempre na memória de todos aqueles que tiveram a oportunidade de nela participar. Tratava-se da entrega do Prémio Eduardo Lourenço, iniciativa do Centro de Estudos Ibéricos (CEI), que, na sua décima edição, distinguiu este ano o professor e investigador da Universidade de Évora, tradutor e poeta extremenho Antonio Sáez Delgado. Intervieram na cerimónia, realizada na sala Tempo e Poesia da Biblioteca, Álvaro Amaro (Presidente da Câmara Municipal da Guarda), Mariano Esteban de Vega (Vice-Reitor da Universidad de Salamanca), João Gabriel Silva (Reitor da Universidade de Coimbra) que nas suas, breves mas ricas, alocuções elogiaram o premiado, sublinhando a exemplaridade do seu trabalho na cooperação cultural entre Portugal e Espanha.
Eduardo Lourenço falando sobre o poeta Antonio Sáez na presença do premiado e do Reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva (foto CEI) |
Tomou depois a palavra Eduardo Lourenço que, após aludir ao facto de ele mesmo ser, tal como o galardoado, um raiano, se debruçou, com o brilho e a sabedoria habituais, sobre Antonio Sáez, o poeta, referindo-se sobretudo aos livros Ruinas e Yo menos Yo, cuja importância estética não deixou de evidenciar. Em seguida, Margarida Almeida Amoedo e João Tiago Lima, do Departamento de Filosofia da Universidade de Évora (entidade que propôs a candidatura vencedora), fizeram o elogio do candidato, recorrendo também à leitura de vários passos da obra de Antonio Sáez, como a que agora se recupera e que inspirou o título desta crónica:
«Pasar media semana en España y la otra media en Portugal tiene sus
ventajas. También las tiene atravesar cada día la frontera para regresar a
dormir al país donde nacieron tus padres. Compro el pan, las frutas, el café y
las verduras en Portugal. La leche, los frutos secos y los caramelos en España.
Uno se imagina haciendo con placer aquello que antes se llamaba traficar:
llevar de un lado a otro lo mejor de cada sitio. Los recuerdos son también otra
forma de tráfico. De cada lado nos llevamos, sin pasaporte ni explicaciones,
aquello que más nos gusta. (...) Cuando menos lo esperamos, nos atenaza la
angustia: español en Portugal, medio portugués en España. El miedo es el
policía de la conciencia» (En otra
patria. Gijón: Llibros del Pexe, 2005, pp. 26-27).
O discurso de Antonio Sáez foi muitíssimo aplaudido (foto CEI) |
Após a entrega do Prémio, Antonio Sáez tomou a palavra e a sessão atingiu, sem dúvida, o seu momento mais alto. Lendo, com uma firmeza que não conseguiu esconder a emoção, um discurso extraordinário, Antonio Sáez deu conta da sua condição de «espanhol em Portugal e meio português em Espanha» e recuperou a concepção pessoana de fronteira que se, por um lado, separa, por outro, pode também aproximar. O texto de Antonio Sáez, cuja publicação é um imperativo cívico urgente e absoluto, foi muitíssimo aplaudido pelos presentes (onde, entre outros, se destacava a presença do Senhor Embaixador de Espanha em Portugal e da Reitora da Universidade de Évora, Ana Costa Freitas) e, como é óbvio, não se deixa resumir no espaço desta nota, que termina com o imenso júbilo de quem pôde viver um momento singular num entardecer inolvidável na cidade da Guarda.
No link seguinte, os visitantes deste blogue poderão ainda acompanhar uma reportagem televisiva sobre o evento e onde Eduardo Lourenço e Antonio Sáez Delgado são entrevistados: http://v2.videos.sapo.pt/4azNscdb8A2NogyAk4np
Família, Amigos e Colegas da Universidade de Évora de Antonio Sáez na Guarda (foto Ler Eduardo Lourenço) |