domingo, 29 de junho de 2014

Incomodidade e Humor


Comemora-se amanhã o centenário do nascimento de Joaquim Namorado (Alter do Chão, 30 de Junho de 1914 – Coimbra, 29 de Dezembro de 1986), uma das figuras mais relevantes do que se convencionou chamar neo-realismo coimbrão. Licenciado em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra, foi professor no ensino particular e, após o 25 de Abril, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da sua Universidade. Como poeta e crítico, colaborou em diversas publicações, a saber: Cadernos da Juventude, Altitude, Seara Nova, Vértice, O Diabo, Sol Nascente, entre outras. Embora tal possa parecer surpreendente, Joaquim Namorado chegou até a colaborar com a revista presença, onde publica em Março de 1938, o poema “Navegação à Vela”. Publicou os seguintes títulos de poesia: Aviso à Navegação (1941), Incomodidade (1945) e A Poesia Necessária (1966).
Segundo António Pedro Pita, em muito recente texto de introdução ao II Volume das Obras Completas de Eduardo Lourenço (em breve disponível nas livrarias), o capítulo de Sentido e Forma da Poesia Neo-Realista a que o ensaísta chamou “Joaquim Namorado ou a epopeia impossível” «permanece ainda hoje o ensaio mais compreensivo da poesia do autor de Incomodidade». Se assim for, poder-se-á avançar com duas explicações. Será o texto de Eduardo Lourenço um ensaio dificilmente ultrapassável? Será que à poesia de Joaquim Namorado não tem sido prestada a devida atenção? Talvez se passe um pouco dessas duas coisas. E, por isso, vale com certeza a pena reler o que, nos anos Sessenta, o ensaísta heterodoxo, e que por isso nunca foi propriamente neo-realista, escreveu sobre um poeta que, pelo menos em alguns dos momentos da sua obra, soube condensar «toda a mitologia neo-realista»: «Como os cavaleiros nos torneios, Namorado entra na liça anunciando o seu dístico e a sua Dama. É a sua uma poesia clara, imperativa, sem simbolismos complicados, nem complexos, sem esteticismo, mas não sem perfeita consciência dessa voluntária ausência pois ela lhe servirá precisamente de tema». Mas, ao mesmo tempo, Eduardo Lourenço não deixa de sublinhar como Joaquim Namorado fui tudo menos insensível a um humor de recorte quase surrealista. É, sem dúvida, o caso da tão breve como inesquecível “Aventura nos mares do sul”: «Eu nunca fui lá».

Também por isso é possível dizer com justeza que o lançamento de Sentido e Forma da Poesia Neo-realista e outros Ensaios é ainda uma outra maneira de homenagear Joaquim Namorado, de quem Eduardo Lourenço, por ocasião da morte do poeta de Incomodidade, chegou a afirmar ser uma espécie de «completa antítese» do famoso crítico oriundo da presença, João Gaspar Simões (“O Sacerdote da Literatura” [Depoimento sobre João Gaspar Simões], Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 236, Lisboa, 12/I/1987, p. 6).