A divulgação de um óptimo video (vale bem a pena vê-lo: o link encontra-se no final desta prosa), produzido para lançar as reimpressões de vários títulos de José Saramago numa diferente casa editorial, dá a conhecer uma das singularidades desses agora novos livros.
É que cada um deles tem a capa, por assim dizer, assinada por uma figura da cultura portuguesa, a saber, Álvaro Siza Vieira, Baptista-Bastos, Eduardo Lourenço, Dulce Maria Cardoso, Gonçalo M.
Tavares, Júlio Pomar, Lídia Jorge, Mário de Carvalho e Valter Hugo Mãe, todos eles naturalmente admiradores do autor de Ensaio sobre a Cegueira. A Eduardo Lourenço coube, como se pode confirmar no pequeno filme, a missão de escrever o título de A Caverna. Participam também neste curto documentário Dulce Maria Cardoso que desenha o título de O Ensaio sobre a Lucidez e Mário de Carvalho encarregue de intitular A Viagem do Elefante.
Capa da nova edição do romance A Caverna de José Saramgo, com o título desenhado pela caligrafia de Eduardo Lourenço |
Ora, apesar da sua sempre afirmada condição de ensaísta, não é impossível sustentar a tese segundo a qual a obra de Eduardo Lourenço, na sua prodigiosa e inacabada dispersão ou, como o próprio gosta de dizer, na sua deriva sem fim, tenha sido escrita, por assim dizer, de costas voltadas para a ideia de livro. Se é certo que muitos títulos de Eduardo Lourenço são, antes de mais, a recolha de ensaios e de estudos redigidos em circunstâncias muito díspares (dessa quase regra seria Pessoa Revisitado uma sintomática excepção), também não deixa de ser curioso e porventura relevante que, no espólio do ensaísta, haja um número considerável de folhas manuscritas de capas que prometem livros aparentemente sempre ainda por escrever. Como se, ao contrário do que se poderia pensar à primeira vista, o projecto de Eduardo Lourenço fosse também, num certo sentido, o de desenhar capas para os seus ensaios. Ou, pelo menos, títulos para essas capas. E, de facto, foi dessa incansável tarefa de imaginar capas que sairam títulos tão magníficos como, por exemplo, Fernando Rei da Nossa Baviera, O Esplendor do Caos ou As Saias de Elvira e outros ensaios.
http://vimeo.com/96604423
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