Foto publicada em Prelo.Revista da Imprensa Nacional/Casa da Moeda, Maio de 1984.
Ler Eduardo Lourenço não pode deixar de assinalar a primeira reacção pública à edição do primeiro volume das Obras Completas do ensaísta. De facto, Vasco Graça Moura escreve hoje, no Diário de Notícias, o artigo “Heterodoxia e liberdade” (p. 54)* onde se refere à publicação de Heterodoxias. O destino neste caso terá sido especialmente sábio, pois Vasco Graça Moura, para além de poeta, ensaísta e tradutor de méritos amplamente reconhecidos, é também um amigo de longa data de Eduardo Lourenço, tendo chegado a ser, na década de Oitenta do século passado, o seu editor, na Imprensa Nacional – Casa da Moeda, em títulos como O Espelho Imaginário, Fernando Rei da Nossa Baviera e Nós e a Europa ou as duas razões. É, de resto, interessante que, em Setembro de 1988, na sequência do Prémio de Ensaio-Charles Veillon atribuído a Eduardo Lourenço, Vasco Graça Moura tenha publicado no Jornal de Letras, Artes e Ideias um curioso artigo onde dá conta das suas dificuldades como editor:
«Observo que Eduardo Lourenço, excessivamente modesto e desprendido, por vezes cede os originais sem guardar cópias e sem registar para onde os enviou para publicação avulsa..., o que torna dificílimo não só o trabalho de recolha dos textos, organização e produção de um livro como este [Nós e a Europa ou as duas razões], mas também o de forçar o próprio autor a convencer-me finalmente de que não se prescinde de publicá-lo dentro de um determinado calendário» (“A Europa está de parabéns”, Jornal de Letras, Artes e Ideias, 13/IX/1988, p. 8).
Para além de editor, Vasco Graça Moura foi também co-autor da edição francesa de Camões 1525-1580 (Bordeaux, L’Escampette, 1994), cuja capa acima se reproduz. Por seu turno Eduardo Lourenço dedicou ao seu amigo um ensaio chamado “Vasco Graça Moura – Um ensaísmo em arquipélago”, [AAVV (Org. de José da Cruz Santos), Modo Mudando. Sete ensaios sobre Vasco Graça Moura, Porto, Campo das Letras, 2000, Col. Campo da Literatura-Ensaio, nº 44, pp. 29-42]. Menos conhecidas serão talvez as afinidades de militância política entre os dois homens que se, por vezes, parecem em campos ideológicos bastante afastados, noutras ocasiões intervieram e intervêm política e culturalmente nas mesmas fileiras (cf. foto com que se inicia este texto). É o caso hoje, por exemplo, do Acordo Ortográfico de que ambos são ferozes opositores.
* O texto está disponível em http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2125905&seccao=Vasco