que não se perde como ela no oceano do tempo.»
É com esta magnífica frase que Eduardo Lourenço encerra o ensaio intitulado “Os mediadores” que a revista Ler publica na sua edição deste mês a propósito da saída na Caminho do Dicionário Luís de Camões, organizado por Vítor Aguiar e Silva que, de resto, em entrevista concedida a Carlos Câmara de Leme, considera Eduardo Lourenço, juntamente com Cleonice Berardinelli, [Américo da] Costa Ramalho e Maria Helena da Rocha Pereira, um «dos grandes camonistas vivos» (Vítor Aguiar e Silva, “Camões amedronta qualquer um”, Ler.Livros & Leitores, nº 106, Outubro de 2011, p. 43). O texto “Os mediadores” (ilustrado por um pormenor do quadro de Francisco Metrass Luís de Camões na Gruta de Macau, que aqui se reproduz na íntegra) não deixa de ter algum paralelismo com o capítulo de Fernando, Rei da Nossa Baviera “A fortuna crítica de Fernando Pessoa”, pois é uma reflexão acerca dos laços que se tecem entre Os Lusíadas e as leituras que, historicamente, o foram mediando.
Deste modo, o ensaio começa logo por equacionar os dados em questão. «Uma Obra (...) não tem leitura fora daquela que os seus leitores instituem, lendo-a e interpretando-a e jogando nela a sua perspicácia e imaginação». O princípio que assim se enuncia, acerca de um poema que o seu Autor ofereceu à sua pátria para ser «o espelho da sua alma», talvez seja válido como chave de leitura para o ensaísmo do próprio Eduardo Lourenço. Mas isso é assunto para outra ocasião. Por agora, Ler Eduardo Lourenço limita-se a aconselhar a compra da Ler deste mês.