«Seria possivelmente uma reflexão arcaica em torno da caoticidade eufórica que constitui hoje a pulsão cultural do Ocidente e contra a qual tudo quanto há em mim de rusticidade social e de inconsciente cristão eticamente se insurge. Sem ilusões».
Capela de São Pedro do Rio Seco (foto de Ler Eduardo Lourenço)
Capela de São Pedro do Rio Seco (foto de Ler Eduardo Lourenço)
Foi assim que, em 1 Novembro de 1987, Eduardo Lourenço respondeu a Francisco Belard quando, em entrevista depois publicada em A Phala, lhe foi perguntado o que poderia ser então uma Heterodoxia III. Recorde-se que, para além desta conversa realizada por escrito por altura da primeira reedição dos dois volumes de Heterodoxia na Assírio & Alvim, Eduardo Lourenço concedeu nessa época uma outra entrevista, com o sintomático título “Um heterodoxo confessa-se” [entrevista por Vicente Jorge Silva e Francisco Belard, Suplemento Revista de Expresso, Lisboa, 16/I/1988, pp. 24-31. Texto reimpresso em GIL, José e CATROGA, Fernando, O ensaísmo trágico de Eduardo Lourenço, Lisboa, Relógio d’água Editores, 1996, pp. 44-75].
Francisco Belard (http://www.casadaleitura.org/)
Ler Eduardo Lourenço sugere, assim, aos jornalistas mais preguiçosos ou menos atentos que uma boa questão para colocar, hoje, ao ensaísta, quando se aproxima a passos largos a data da publicação do primeiro volume das Obras Completas com o título de Heterodoxias talvez seja mesmo esta: o que significa ser Heterodoxo em 2011?