quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Voando sobre a América, em directo!


Um dos acontecimentos editoriais mais curiosos do ano passado 2011 (e que se calhar não obteve a atenção que mereceria) foi talvez a publicação da obra, coordenada por Filipa Melo, com o belo título Asas sobre a América. Trata-se de um conjunto de ensaios (que correspondem a conferências realizadas ao longo de 2008 na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento) redigidos por Ana Luísa Amaral, Francisco José Viegas, Gonçalo M. Tavares, Inês Pedrosa, Lídia Jorge, Manuel António Pina, Pedro Mexia e Rui Zink, cada um versando um determinado autor da literatura norte-americana do nosso tempo, a saber: Philip Roth, Carson McCullers, William Faulkner, Flannery O’Connor, Emily Dickinson, Saul Bellow, Ezra Pound e Raymond Chandler. Completam o volume um texto de Richard Zenith dedicado às relações entre  Fernando Pessoa e Walt Whitman e um ensaio, que aliás abre o livro, de ... Eduardo Lourenço. O video que agora, com a devida vénia, se apresenta reproduz essa conferência de Eduardo Lourenço, realizada na tarde de 21 de Fevereiro  de 2008. Para além de ser um documento histórico que vale por si mesmo, este filme de cerca de um a hora permite o confronto da palestra com a versão impressa do texto (Asas Sobre a América-Wings Over America, Coimbra, Almedina, 2011, pp. 17-27), um pouco como se Ler Eduardo Lourenço se transformasse hoje numa espécie de visita a um atelier de um pintor no momento em que este cria os seus quadros.


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Dois pós-modernos?

Jeanne Moreau
Claudia Cardinale
 
Chegou esta semana às salas de cinema o mais recente filme de Manoel de Oliveira, O Gebo e a Sombra, película realizada a partir da peça teatral homónima de Raul Brandão e que conta com a participação dos seguintes actores: Claudia Cardinale, Michael Lonsdale, Luís Miguel Cintra, Leonor Silveira, Ricardo Trêpa e Jeanne Moreau. Como se sabe, O Gebo e a Sombra teve uma ante-estreia perante cerca de duzentas pessoas, no passado dia 19 de Setembro, no Salão Nobre do Palácio de São Bento, por ocasião da abertura da nova sessão legislativa da Assemblei da República. Entre os presentes nessa espécie de consagração oficial que o regime entendeu dedicar a Oliveira contavam-se, de acordo com o jornal Público do dia seguinte, e entre outras personalidades da vida cultural portuguesa, as actrizes Maria Barroso, Io Apoloni, Glória de Matos e Leonor Silveira. Eduardo Lourenço também assistiu à sessão, facto que não espanta dado quer o seu apaixonado interesse por cinema, quer a relação de amizade que o liga a Manoel de Oliveira (aliás, Eduardo Lourenço tem breves participações em dois filmes de Oliveira!). A referência que se faz às actrizes presentes (e implicitamente também às ... ausentes!) é directamente motivada por uma pequena estória que Francisco Seixas da Costa, embaixador de Portugal em Paris, narra no seu blog e que, com a devida vénia, a seguir se reproduz: «O que penso dele [de Eduardo Lourenço] e do muito que lhe devemos disse-lho numa simples homenagem que, há semanas, organizei em sua honra na embaixada.Mas vou contar uma história, passada com ele antes desse jantar, de que foram testemunhas Vasco Graça Moura e Guilherme Oliveira Martins. Espero que ele não leve a mal que a conte, porque ela apenas revela a juventude saudável de um homem sem idade. Lourenço chegou já sobre a hora do jantar, depois dos restantes convidados. Pediu-nos desculpa pelo atraso (que, na realidade, não existia) e explicou que acabava de chegar de Saint-Denis, nos arredores de Paris, onde fora encontrar Manoel de Oliveira, que aí filmava num estúdio onde se reproduzia uma rua do Porto (!). Um de nós perguntou-lhe a razão da deslocação. Curiosidade de ver Oliveira a filmar? Eduardo Lourenço deu uma daquelas gargalhadas contidas que lhe são típicas e, com uma jovialidade que só se ganha com a idade, revelou: “A verdade é que me tinham dito que o Oliveira estava, hoje, a filmar com a Jeanne Moreau e a Claudia Cardinale. E eu tinha curiosidade de ver, ao vivo, as duas senhoras”. E viu ?, perguntámos. “Não, já tinham ido embora e acabei por pagar uma conta calada de taxi...”». http://duas-ou-tres.blogspot.pt/2011/12/eduardo-lourenco.html
Ler Eduardo Lourenço não conseguiu encontrar declarações do ensaísta sobre O Gebo e a Sombra. No entanto, é possível recuperar um texto que apareceu no jornal Público por ocasião da estreia de “Non ou A Vã Glória de Mandar” e em que Eduardo Lourenço se refere a um dos filmes mais discutidos de Oliveira nos seguintes termos: «Bordado sobre a nos­sa “História”, a partir de um remate dela en­trevisto e mostrado como inevitável (e justa?) catástrofe, o filme de Manoel de Oliveira, co­mo quase todos os seus, nada tem a ver com a História, mas com a sua representação mítica. A sua linhagem não é dos historiadores, à Duarte Leite ou mesmo à Sérgio, por mais sergista que pareça a sua ideia de D. Sebastião. A sua linhagem é a dos mitólogos, à Jaime Cortesão, à Agostinho da Silva, mas também à Régio e à Pessoa, todos corrigidos e subtilmente desviados das suas visões mes­siânicas, mais ou menos euforizantes pela visão de Oliveira Martins».
“Para Cá do Espelho Mágico ou a grã glória de des-sonhar”, Suplemento Fim de Semana de Público, Lisboa, 12/X/1990, pp. 8-9.
Manoel de Oliveira
 
Em contrapartida, quatro anos antes, Manoel de Oliveira publica no Jornal de Letras um curioso texto dedicado a Eduardo Lourenço e que reza assim:
«Não sou eu de modo nenhum um literato, tenho até dificuldade em escrever – e tenho pena – mas a minha vocação é o cinema e é como se nele tivesse nascido. Mas, perante a solicitação que me fazem, não posso dizer não para falar sobre quem por duas vezes me disse prontamente sim para intervir em dois pequenos filmes meus: um feito em Franca, Nice à propos de Jean Vigo, e outro cá na nossa terra, Lisboa Cultural.
Considero Eduardo Lourenço particular­mente voltado para a reflexão literária e para a análise política. A estas duas facetas funda­mentais, acresce uma forte vontade de formu­lar também juízos e interpretações sobre o ci­nema e a pintura como expressões artísticas sem, evidentemente, esquecer a poesia que lhe é muito mais familiar. É certo que à literatura (ou aos literatos) está sempre aberto o campo do pensamento e o da reflexão artística, ou o da análise sobre quaisquer manifestações, di­gamos de expressão vital.
Vejo Eduardo Lourenço entre os intelec­tuais que melhor escreveu neste “reino da nos­sa Baviera”, segundo ele próprio classificou. Um homem que se quer a si mesmo como ac­tual e que acompanha as ideologias mais mo­dernas. Espírito fino mas inconstante, anima­do por uma ânsia de conhecer o devir. Um in­telectual autêntico, diria... E haverá verdadei­ramente autenticidade sem sinceridade? Mas que sei eu!... Culto, erudito, amante de Botti­celli, estudioso, inteligência perspicaz. Que mais direi...? Alguém que se desejaria um pós-moderno, ou de uma nova Renascença».
 Manoel de Oliveira, “Um pós-moderno”, Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 231, Lisboa, 6/XII/1986, p. 13.
Ler Eduardo Lourenço ainda não teve a oportunidade de presenciar O Gebo e a Sombra, mas não esconde a sua expectativa. É que, independentemente do que se possa pensar das obras de Eduardo Lourenço e de Manoel de Oliveira, não há dúvida que a vitalidade criativa e intelectual de ambos é absolutamente invejável. Têm ainda uma outra qualidade: o fascínio por belas actrizes. Serão também por isso dois pós-modernos? 
 
 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A confirmar!



Ler Eduardo Lourenço tem de reconhecer que uma das características mais aliciantes do projecto das Obras Completas consiste no desafio de tentar reunir tudo aquilo que o ensaísta, até hoje, escreveu (do muito que ainda está, felizmente, por vir à luz do dia não adianta obviamente falar...). Trata-se de uma tarefa imensa, para não dizer infinita. Mesmo que, por razões de método (e só por isso!), não se considerem agora os textos inéditos, a dispersão dos textos existentes implica uma cartografia que, quase todos os dias, obriga a que esta pesquisa quase de Sísifo se reinicie.
Sobretudo quando se encontra em Portugal, Eduardo Lourenço é constantemente solicitado para dar entrevistas, redigir prefácios a livros e/ou catálogos, a proferir palestras nos locais mais recônditos e inesperados. Por exemplo, ao endereço electrónico que figura no cabeçalho deste blog, e que (importa esclarecer isto, duma vez por todas!) NÃO é a caixa de correio de Eduardo Lourenço, que nem sequer é um habitual frequentador do universo cibernáutico, chegam uma quantidade impressionante de convites e propostas para realizar as mais variadas tarefas. Ora, a cada uma dessas solicitações referidas e aceites corresponderá, em princípio, um texto que, sendo escrito ou pelo menos gravado, mudará de estatuto: de inédito ou até inexistente (pois Eduardo Lourenço fala inúmeras vezes de improviso) passará a ser publicado. Por outro lado, há o que se poderia designar por pistas falsas. É o caso de quando Ler Eduardo Lourenço se depara com programas de colóquios como o que a seguir se reproduz:
 
Se se reparar, está prevista para as cinco da tarde do primeiro dia do colóquio uma sessão (a confirmar!!!) de quarenta e cinco minutos de Eduardo Lourenço. Mesmo desconfiando das ratoeiras da memória, Ler Eduardo Lourenço indagou junto de uma pessoa que participou há quase dez anos em Os Intelectuais e os poderes se a comunicação prevista chegou a realizar-se ou não. A resposta foi negativa (ou seja, Eduardo Lourenço não terá feito tal conferência), mas nem isso é cem por cento seguro. Pode ter havido sessão e o participante não ter assistido. Pode ter havido um impedimento de última hora e, como compensação, o autor ter enviado à organização um texto para ser lido por outra pessoa. Não seria nem a primeira, nem a segunda vez que tal sucederia. Pode até a organização nem sequer ter conseguido chegar à fala com Eduardo Lourenço que assim fazia parte do programa do Colóquio sem sequer saber que este iria realizar-se (esta hipótese parece claramente extravagante e portanto bastante difícil de imaginar neste caso concreto!). Também não seria uma situação única, pois há vários episódios idênticos. Enfim, a verdade é que, se houve texto falado ou escrito, não parece haver rasto dele. Mas poderíamos dar um outro exemplo.
Quando preparava a organização dos materiais inéditos e dispersos para o volume Tempo da Música, Música do Tempo (e de que em Maio passado foi publicado, por vontade expressa de Eduardo Lourenço, uma parte em edição da Gradiva), a investigadora Barbara Aniello encontrou uma referência a um intervenção que Eduardo Lourenço teria feito no dia 11 de Outubro de 1993 durante o


Festival Europeu da Música em Munique, actividade que recebeu o nome genérico de Europamusicale e da qual mais tarde se fez um catálogo. A sessão em que Eduardo Lourenço participou, segundo catálogo que  Ler Eduardo Lourenço consultou na Biblioteca Municipal da Guarda, estava programada do seguinte modo:
Para além da curiosa síntese biográfica em alemão de Eduardo Lourenço schriftsteller, descobre-se pela leitura destas páginas do catálogo que a sessão dedicada a Portugal compreendia, juntamente com a comunicação do ensaísta, um concerto em que a Orquestra Gulbenkian acompanhava o pianista Sequeira da Costa na execução de peças de Joly Braga Santos, Mozart, Rossini e João Domingos Bomtempo. Ao contrário do que sucede com outros autores que foram convidados a apresentar outros concertos, o texto de Eduardo Lourenço não consta do índice do catálogo, o que é naturalmente lamentável.
 

 
Mas não há dúvidas que Eduardo Lourenço esteve em Munique, pois um dos organizadores do evento e respectivo catálogo, Pankraz Frhr, ofereceu-lhe no dia anterior (10 de Outubro) este volume com a dedicatória que também aqui se reproduz. Não conseguindo até agora descobrir o texto de Eduardo Lourenço, fica pelo menos o consolo de se poder ouvir uma outra versão do concerto nº 21 de Mozart para piano e orquestra que abre este post.
 
 
 

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Notas para memória futura

 por Ana Cristina Dias*
Foi um pedaço de tarde particularmente sereno e de partilha privilegiada. O director da revista Ler, João Pombeiro, evocou como marcantes da vida da revista, dois momentos em que nessa publicação se fizeram revelações sobre a obra de Lourenço: aquele em que trouxe luz sobre os seus heterónimos e o outro, bem recente, em que deu a conhecer (com base no trabalho de João Nuno Alçada) o livro de viagens em que o professor se prestou a ghost-writer...
O professor começou evocando a "descoberta" do mundo do livro com a exploração da mala de livros que seu pai deixou em S.Pedro, que lhe deu a conhecer Camilo, Júlio Dinis, Júlio Verne...a partir daí tornando-se leitor compulsivo, ao ponto de dizer não saber se foi alguma coisa mais na vida do que um leitor.
Apontou cada livro como uma tentativa de o autor se explicar a si próprio e discernir o que somos, de onde vimos e para onde vamos. O livro como esforço de discernimento mas também como barca de salvação - evocou Sherazade que, ao contar, suspendia a morte. Disse que a humanidade não tem feito outra coisa senão contar para suspender a morte...
Nas perguntas finais, não resisti a pedir-lhe que voltasse à mala de S.Pedro, que continha também livros de História e que partilhasse connosco essa impressão juvenil da leitura da História como ficção (a suprema ficção da humanidade, como a classificou muito mais tarde).
Com imensa graça, perguntou-me como sabia que a mala continha livros de História, que não se lembrava de alguma vez o ter dito. Lembrei-lhe que o disse numa entrevista antiga e ele explicou então que era verdade, que a sua grande paixão pela História vinha desses tempos. Porém, vincou: a História ao jeito de Michelet e não a de pendor positivista...o que daria para uma outra, muito maior conferência, mas esta ficou mesmo por aqui.

* Ana Cristina Dias é uma visitante muito atenta de Ler Eduardo Lourenço que agora se estreia como colaboradora no blog através de um breve relato, extremamente curioso, da palestra proferida por Eduardo Lourenço e que inaugurou o  ciclo de conferências Ler em Voz Alta, promovido pela revista Ler por ocasião dos seus vinte cinco  anos de vida. A sessão realizou-se no Centro Cultural de Belém, ao fim da tarde, no passado dia 20.  Ler Eduardo Lourenço agradece a colaboração Ana Cristina Dias e, ao mesmo tempo, renova o convite a todos os outros visitantes para também participarem no blog.
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/lazer/cultura/eduardo-lourenco-sou-um-leitor-compulsivo

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Carrilho



Decidiu Manuel Maria Carrilho, em conjunto com o editor Rui Alexandre Grácio, reunir, numa publicação em dois volumes com o ambicioso título Pensar o Mundo, o conjunto da sua obra filosófica e política. Manuel Maria Carrilho é provavelmente uma das figuras mais mediáticas do universo político português. Filósofo de formação, professor catedrático na Universidade Nova de Lisboa, antigo Ministro da Cultura, comentador político em diversos orgãos de comunicação social, Manuel Maria Carrilho tornou-se até numa figura muito apetecida das chamadas revistas cor de rosa sobretudo após o seu famoso casamento com uma das estrelas da televisão nacional, a conhecida apresentadora Bárbara Guimarães. Figura grandemente controversa, nem sempre pelas melhores razões (lembre-se o célebre episódio em que, numa campanha eleitoral, recusou cumprimentar um adversário político na sequência de um debate televisivo), Carrilho é, no entanto, conhecido pelo desassombro das suas opiniões e, caso raro na vida pública nacional, por assumir a sua condição de filósofo como fundamento teórico da sua intervenção política.
Ler Eduardo Lourenço dá hoje destaque a uma das facetas menos conhecidas de Manuel Maria Carrilho, a de leitor atento da obra do autor de Heterodoxias, indicando todos os textos que conhece e que testemunham essa atenta e continuada leitura.

1) “Metamorfoses da heterodoxia: o labirinto do outro”, Prelo-Revista da Imprensa Nacional/Casa da Moeda, nº especial, Lisboa, Maio de 1984, pp. 65-68. Texto reimpresso com o título “Metamorfoses da heterodoxia”, em CARRILHO, Manuel Maria, Elogio da Modernidade. Ideias. Figuras. Trajectos, nº 108, Lisboa, Presença, 1989, Col. “Biblioteca de Textos Universitários”, pp. 92-97.
2) “O fio de Ariana de E. Lourenço”, Elogio da Modernidade. Ideias. Figuras. Trajectos, nº 108, Lisboa, Presença, 1989, Col. “Biblioteca de Textos Universitários”, pp. 86-92. Texto reimpresso em AAVV (Org. de Maria Manuel BAPTISTA), Eduardo Lourenço. Uma Cartografia Imaginária, Col. “Cadernos do Mosteiro”, nº 9, Maia, Câmara Municipal da Maia, 2003, pp. 105-110 e em AAVV (Org. de Maria Manuel BAPTISTA), Cartografia Imaginária de Eduardo Lourenço. Dos Críticos, Maia, Ver o Verso, 2004, pp. 153-158.
3) “O Espírito de Heterodoxia”, Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 667, Lisboa, 8/V/1996, p. 12.
4) “A nova esquerda”, Expresso, Lisboa, 24/V/2003.
5) “Lourenço, o heterodoxo”, Diário de Notícias, Lisboa, 4/X/2008, p. 4.


São textos de natureza diversa, sendo que os dois primeiros constituem ensaios interpretativos da obra de Eduardo Lourenço, ao passo que os três últimos podem ser considerados mais testemunhos de apreço pelo autor que, curiosamente, foi agora convidado a apresentar a obra Pensar o Mundo, em sessão a realizar, amanhã, quinta-feira, pelas 18h30 no Palácio Galveias em Lisboa.
Ler Eduardo Lourenço admite não estar cem por cento seguro quanto a este ponto, mas julga que Eduardo Lourenço nunca escreveu nenhum ensaio sobre a obra de Carrilho, embora tenha de referir uma brevíssima declaração prestada ao jornal Público quando o autor de Pensar o Mundo cessou as funções de Ministro da Cultura em 2000. Cf.“Uma gestão mais do que positiva e uma nomeação”, Público, Lisboa, 9/VII/2000, p. 4.
Entrevistado hoje pelo Diário de Notícias a propósito de Pensar o Mundo, Eduardo Lourenço não adianta muito em relação ao que pensa sobre a obra que foi convidado a apresentar. Facto que, só por si, aumenta ainda  mais a curiosidade sobre o que irá dizer amanhã. A não perder, portanto.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Boas Férias!



Ler Eduardo Lourenço, tal como no ano passado, vai a banhos neste tempo de férias, com a promessa de regressar na segunda quinzena de Setembro. Cansado, mas ao mesmo tempo satisfeito, porque acaba de chegar às suas mãos a segunda edição de Heterodoxias. Em rigor, trata-se mesmo de uma nova edição (e não de uma mera reimpressão), pois relativamente à primeira foram eliminadas algumas - muito poucas, felizmente! - arreliadoras gralhas. Mas sem dúvida que a razão principal da alegria de Ler Eduardo Lourenço reside no facto de, doravante, os leitores menos atentos poderem pedir nas livrarias o volume inicial das Obras Completas. A edição original teve uma tiragem de mil exemplares, tal como a segunda que aparece oficialmente em Maio de 2012, ou seja, seis meses depois da primeira. É sem dúvida um  indiscutível sucesso editorial, numa época tão difícil para o mercado dos livros. Curiosamente a primeira edição de O Labirinto da Saudade demorou bastante mais tempo a esgotar-se, como os mais antigos visitantes deste blog sabem, dado que ao assunto já foi dedicado o mais popular de todos os posts de Ler Eduardo Lourenço, publicado em Março de 2011. Num total de 24 411 visitas a Ler Eduardo Lourenço, o texto “5 cartas de Snu Abecassis ou para uma genealogia do Labirinto” foi visto por setecentas e cinquenta duas vezes. 
Boas Férias na companhia da sempre renovada obra de Eduardo Lourenço!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O Negativo do Poético

Quem procurar na bibliografia activa de Eduardo Lourenço, felizmente em constante actualização e disponível em www.eduardolourenco.uevora.pt, um texto com o título “O Negativo do Poético” terá de confessar o seu desapontamento, pois essa busca terá sido em vão. No entanto, “O Negativo do Poético” foi o nome original de um ensaio que, muitos anos depois, Eduardo Lourenço viria a incluir em Tempo e Poesia.

Ora, está nesta altura a ser preparado, com a coordenação a cargo de Carlos Mendes de Sousa, o segundo volume das Obras Completas e cuja tábua de matérias se desenha justamente em torno do livro Tempo e Poesia, publicado pela primeira vez em 1974, mas que reúne também ensaios bastante mais antigos como, por exemplo, “Esfinge ou a poesia”, (Árvore. Folhas de Poesia, nº 1, Lisboa, Outono de 1951, pp. 5-9). Entre esses textos dispersos e inéditos merece hoje a atenção de Ler Eduardo Lourenço “O irrealismo poético ou a poesia como mito”  que foi dado pela primeira vez à estampa em Europa (nº 3, Março de 1957, pp. 1-2). O jornal Europa, dirigido por Urbano Tavares Rodrigues e Virgílio Pereira teve uma curta existência, mas nele é possível encontrar valiosos escritos. É o caso, sem dúvida, deste “O irrealismo poético ou a poesia como mito”.
 imagem recolhida em www.frenesilivros.blogspot.pt



Consultando alguns manuscritos do espólio de Eduardo Lourenço, é possível registar que não só “O Negativo do Poético” foi o primeiro nome deste ensaio, como o seu primeiro parágrafo foi, pelo menos, três vezes reescrito, como se pode ver pelas imagens que a seguir se reproduzem. É, por exemplo, relevante que a epígrafe com uma citação de Heidegger tenha caído na versão publicada, ao passo que a de Pascoaes tenha permanecido. Ler Eduardo Lourenço considera, no entanto, que nem por isso a presença do filósofo de Sein und Zeit é menos determinante em toda abordagem que o ensaísta português faz do texto poético. Mas isso poderá ser melhor discutido daqui a alguns meses. Por agora fica apenas a curiosidade de se observar o modo como este magnífico ensaio se foi construindo.

A 1ª versão

 A 2ª versão

 A 3ª versão