Decidiu Manuel Maria Carrilho, em conjunto com o editor Rui Alexandre Grácio, reunir, numa publicação em dois volumes com o ambicioso título Pensar o Mundo, o conjunto da sua obra filosófica e política. Manuel Maria Carrilho é provavelmente uma das figuras mais mediáticas do universo político português. Filósofo de formação, professor catedrático na Universidade Nova de Lisboa, antigo Ministro da Cultura, comentador político em diversos orgãos de comunicação social, Manuel Maria Carrilho tornou-se até numa figura muito apetecida das chamadas revistas cor de rosa sobretudo após o seu famoso casamento com uma das estrelas da televisão nacional, a conhecida apresentadora Bárbara Guimarães. Figura grandemente controversa, nem sempre pelas melhores razões (lembre-se o célebre episódio em que, numa campanha eleitoral, recusou cumprimentar um adversário político na sequência de um debate televisivo), Carrilho é, no entanto, conhecido pelo desassombro das suas opiniões e, caso raro na vida pública nacional, por assumir a sua condição de filósofo como fundamento teórico da sua intervenção política.
Ler Eduardo Lourenço dá hoje destaque a uma das facetas menos conhecidas de Manuel Maria Carrilho, a de leitor atento da obra do autor de Heterodoxias, indicando todos os textos que conhece e que testemunham essa atenta e continuada leitura.
1) “Metamorfoses da heterodoxia: o labirinto do outro”, Prelo-Revista da Imprensa Nacional/Casa da Moeda, nº especial, Lisboa, Maio de 1984, pp. 65-68. Texto reimpresso com o título “Metamorfoses da heterodoxia”, em CARRILHO, Manuel Maria, Elogio da Modernidade. Ideias. Figuras. Trajectos, nº 108, Lisboa, Presença, 1989, Col. “Biblioteca de Textos Universitários”, pp. 92-97.
2) “O fio de Ariana de E. Lourenço”, Elogio da Modernidade. Ideias. Figuras. Trajectos, nº 108, Lisboa, Presença, 1989, Col. “Biblioteca de Textos Universitários”, pp. 86-92. Texto reimpresso em AAVV (Org. de Maria Manuel BAPTISTA), Eduardo Lourenço. Uma Cartografia Imaginária, Col. “Cadernos do Mosteiro”, nº 9, Maia, Câmara Municipal da Maia, 2003, pp. 105-110 e em AAVV (Org. de Maria Manuel BAPTISTA), Cartografia Imaginária de Eduardo Lourenço. Dos Críticos, Maia, Ver o Verso, 2004, pp. 153-158.
3) “O Espírito de Heterodoxia”, Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 667, Lisboa, 8/V/1996, p. 12.
4) “A nova esquerda”, Expresso, Lisboa, 24/V/2003.
5) “Lourenço, o heterodoxo”, Diário de Notícias, Lisboa, 4/X/2008, p. 4.
São textos de natureza diversa, sendo que os dois primeiros constituem ensaios interpretativos da obra de Eduardo Lourenço, ao passo que os três últimos podem ser considerados mais testemunhos de apreço pelo autor que, curiosamente, foi agora convidado a apresentar a obra Pensar o Mundo, em sessão a realizar, amanhã, quinta-feira, pelas 18h30 no Palácio Galveias em Lisboa.
Ler Eduardo Lourenço admite não estar cem por cento seguro quanto a
este ponto, mas julga que Eduardo Lourenço nunca escreveu nenhum ensaio
sobre a obra de Carrilho, embora tenha de referir uma brevíssima
declaração prestada ao jornal Público quando o autor de Pensar o Mundo cessou as funções de
Ministro da Cultura em 2000. Cf.“Uma gestão mais do que positiva e uma
nomeação”,
Público, Lisboa, 9/VII/2000, p. 4.
Entrevistado hoje pelo Diário de Notícias a propósito de Pensar o Mundo, Eduardo Lourenço não adianta muito em relação ao que pensa sobre a obra que foi convidado a apresentar. Facto que, só por si, aumenta ainda mais a curiosidade sobre o que irá dizer amanhã. A não perder, portanto.