Carlos Braumann, Reitor da Universidade de Évora, entrega o Prémio Vergílio Ferreira 2012 a José Gil
(foto de João Barnabé http://www.ueline.uevora.pt/)
Após uma ausência, mais longa do que o previsto, para retemperar forças e imaginação, Ler Eduardo Lourenço regressa ao convívio dos seus visitantes com uma evocação do Prémio Vergílio Ferreira 2012 que, ao fim da tarde de ontem, foi entregue a José Gil, consagrando a sua obra filosófica, ensaística e literária. O autor de A imagem-nua e as pequenas percepções: estética e metafenomenologia sublinhou, na ocasião, a sua satifação, dizendo: «Sinto-me particularmente contente porque não é todos dias que a filosofia, ameaçada como está, ou cujo ensino é ameaçado desde há muitos anos, é posta em destaque e se eu contribui para isso sinto-me muito contente». No final da sua breve, mas magnífica, intervenção José Gil evocou o amigo Eduardo Lourenço que, ao saber o nome do premiado deste ano, afirmou: «Vergílio Ferreira teria ficado muito satisfeito de certeza».
Ler Eduardo Lourenço endereça os parabéns a José Gil (que, recorde-se, é um dos membros da Comissão de Honra do Projecto da Edição das Obras Completas de Eduardo Lourenço e também um dos coordenadores temáticos de, pelo menos, um dos volumes a editar futuramente) e, já agora, também ao Júri do Prémio, presidido por José Alberto Gomes Machado e constituído este ano por Fernando Gomes (Universidade de Évora), José Augusto Bernardes (Universidade de Coimbra), Mário Avelar (Universidade Aberta) e Antonio Saéz Delgado (crítico literário), pela justeza e sabedoria da escolha.
Importa recordar que, em 2001, a Eduardo Lourenço foi igualmente atribuído o Prémio Vergílio Ferreira, facto que, de resto, foi aqui assinalado há exactamente um ano. Ler Eduardo Lourenço conversou esta manhã com José Alberto Machado, Director da Escola de Ciências Sociais da Universidade de Évora e antigo aluno do autor de Aparição que, para além de ser o Presidente do Júri do Prémio Vergílio Ferreira desde a sua primeira edição, é, sem dúvida, o principal responsável pela existência de tão prestigiado galardão. José Alberto Machado relembrou, que, em 2001, a candidatura de Eduardo Lourenço fora proposta pelo Departamento de Linguística e de Literatura da própria Universidade de Évora e, ao mesmo tempo, entregou por mão própria (em sentido literal) a Ler Eduardo Lourenço a respectiva declaração do Júri, constituído também por Maria de Fatima Marinho, Rosa Maria Goulart e Maria Filomena Gonçalves, e que, no essencial, diz o seguinte:
«O Júri decidiu atribuir o Prémio Vergílio Ferreira a Eduardo Lourenço. Considerado por muitos com o maior ensaísta português vivo, tem mantido, nas últimas décadas, uma presença imprescindível, trazendo para a cultura os problemas e as angústias de todos nós. Através de um olhar inquietante, é um pensador que, analisando e reflectindo sobre os mais variados problemas da vida político-cultural, lhes retira a superficialidade ou a banalidade dos dias que correm e lhes outorga a espessura da novidade e da perpétua renovação do humano. Os seus estudos sobre, entre outros, Camões, Antero de Quental, Fernando Pessoa – sem esquecer os que dedicou a Vergílio Ferreira – constituem um marco incontornável no ensaísmo português».
Para além da amizade que há entre Eduardo Lourenço e José Gil, os dois são leitores atentos um do outro. Tal comprova-se pelos textos seguintes. José Gil fez uma conferência na Guarda, a dez de Setembro de 1995, dedicada ao pensamento de Eduardo Lourenço com o título “O ensaísmo trágico”. O estudo encontra-se publicado em O ensaísmo trágico de Eduardo Lourenço (Lisboa, Relógio D’água Editores, 1996, pp. 7-27). Dez anos depois Eduardo Lourenço escreve para Le nouvel Observateur o ensaio “José Gil. Le philosophe de la chair” (Hors-série, nº 57, Dezembro 2004, pp. 38-40). Uma tradução, infelizmente com algumas gralhas, deste texto foi publicada com o título “O filósofo do corpo” em Jornal de Letras, Artes e Ideias, nº 895, Lisboa, 19/I/2005, pp. 12-13. Contudo, hoje, uma nova versão – corrigida! – deste ensaio encontra-se em Heterodoxias, primeiro volume das Obras Completas com um título que respeita mais o original francês: “José Gil: O Filósofo da Carne” (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2011, pp. 503-506). Esse número especial de Le nouvel Observateur, recorde-se, distinguiu o que a revista considerou então os vinte cinco maiores pensadores do mundo inteiro e José Gil surge aí lado a ladoa com nomes como Slavoj Zizek, Gorgio Agamben, Toni Negri, Axel Honneth, Peter Sloterdijk ou Richard Rorty, entre outros. A cada um dos vinte cinco pensadores é dedicado um ensaio (no caso do pensador português, trata-se de“José Gil: O Filósofo da Carne”), uma pequena nota bio-bibliográfica (também assinada por E.L.) e, por fim, uma entrevista que, até pelo ineditismo de nela vermos Eduardo Lourenço no papel de perguntador, justifica perfeitamente a sua inclusão neste blog. Em francês, comme il faut.
Le nouvel Observateur (Hors-série, nº 57, Dezembro 2004, p. 41)
Uma última referência necessita de ser feita ainda a um ensaio que José Gil escreveu mais recentemente sobre a obra de Eduardo Lourenço. Trata-se de “Le plan de pensée d’Eduardo Lourenço”, editado num número especial dedicado ao pensamento português contemporâneo pela revista Rue Descartes (nº 68, Paris, PUF, Maio de 2010, pp. 104-117). Vale bem a pena a leitura deste último texto.