sexta-feira, 16 de março de 2012

Chegou o Tempo da Música!

Entre Wagner e Mahler
(reprodução de manuscrito existente no Acervo Eduardo Lourenço)


Das inúmeras revelações que o trabalho de organização e inventariação do espólio de Eduardo Lourenço, levado a cabo por João Nuno Alçada, tem proporcionado aos leitores do ensaísta, uma que não é certamente das menos surpreendentes (e sobretudo das menos importantes) tem a ver com a divulgação do conteúdo das entretanto já célebres pequenas agendas com minúsculas anotações mansuscritas acerca de temas musicais. Ler Eduardo Lourenço arrisca mesmo dizer que só por causa desta descoberta já teria valido a pena todo o esforço e a dedicação que João Nuno Alçada tem colocado nesta aventura. Mas, como é evidente, muitos outros motivos de interesse existem... Deles falaremos noutras ocasiões porque, hoje, é Tempo da Música.
Que Tempo da Música é este? Importa começar por dizer que Barbara Aniello, uma competentíssima investigadora italiana nas áreas da música, da história de arte, da estética musical e da musicologia, abraçou o projecto da coordenação de um volume dedicado aos ensaios estéticos de Eduardo Lourenço com um entusiasmo e um rigor inexcedíveis. Agindo em estreita colaboração com João Nuno Alçada, mas também com o Secretariado do Projecto da Edição das Obras Completas, a funcionar no NICPRI da Universidade de Évora, Barbara Aniello reuniu um extenso número de textos sobre (ou até apenas com referências a) música com vista à sua inclusão num tomo que  mais tarde sairá a público. Desse  trabalho, Ler Eduardo Lourenço já deu aqui notícia num post assinado pela própria Barbara Aniello em 14 de Março do ano passado Para um Tempo da Música e uma Música do Tempo, a que se seguiu um outro, em Dezembro último, com o título A música é o canto do nosso próprio inconsciente.
Refira-se ainda que esse volume, com o título provisório Ensaios Estéticos, integrará também ensaios sobre pintura (muitos deles pertencentes ao livro O Espelho Imaginário, embora existam igualmente muitos dispersamente publicados e outros até ainda inéditos) e, eis outra novidade, sobre cinema. Da coordenação dos textos sobre cinema aceitou encarregar-se Pedro Mexia, convidado para o efeito por Eduardo Lourenço que, de resto, é (como se sabe) o responsável pela escolha de todos os coordenadores temáticos das suas Obras Completas




Ora, um dos leitores mais impressionados pelo livro feito por Barbara Aniello foi, imagine-se, o próprio ... Eduardo Lourenço que, segundo confessou, não tinha ideia completamente exacta da extensão (e da importância, acrescenta Ler Eduardo Lourenço) dos seus apontamentos musicais. A surpresa foi de tal ordem que decidiu o autor avançar desde já para a publicação de Tempo da Música, Música do Tempo na editora Gradiva. Diga-se que esta versão do texto não reflecte, como porventura seria merecido, o magnífico trabalho de investigação da Barbara Aniello, designadamente o modo paciente e sabedor como contextualizou todos estes tempos musicais. Tal exigirá um trabalho mais demorado que muito ficará a ganhar com o confronto mais próximo com os ensaios sobre pintura e cinema, no volume das Obras Completas de que atrás se falou. Para já, o leitor de Eduardo Lourenço e todos os interessados em música poderão deliciar-se com uma versão mais leve e parcial de Tempo da Música, Música do Tempo que acaba de chegar às livrarias. Fica a promessa de que, mais tarde, chegará a versão completa deste novo Eduardo Lourenço e que será publicado num tomo integralmente dedicado à reflexão estética do autor de O Espelho Imaginário. Até lá, Ler Eduardo Lourenço apresenta algumas imagens dos manuscritos inéditos agora passados para livro.

Alban Berg, Concerto à mémoire d'un Ange
(reprodução de manuscrito existente no Acervo Eduardo Lourenço)


Berlioz
(reprodução de manuscrito existente no Acervo Eduardo Lourenço)