segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Duas breves notas à margem de À margem das revoluções islamistas...






Ler Eduardo Lourenço não esconde que tem uma predilecção especial por inéditos (de preferência antigos...) e por textos pouco conhecidos. Mas uma das marcas que, ao mesmo tempo, mais aprecia no ensaísmo de Eduardo Lourenço é a sua capacidade (que, quase diariamente, manifesta) em pensar a actualidade sem cair no actualismo. E assim ajudar os nossos dias a ficarem menos insuportáveis...


À margem das revoluções islamistas..., que aparece hoje na página 29 do Público (vale a pena ir ao quiosque mais próximo, passe a redundante publicidade), é o primeiro texto de Eduardo Lourenço na nossa imprensa diária desde há quase meio ano. Talvez isso justifique a tão entusiástica quanto precipitada chamada da capa do jornal que anuncia: «Eduardo Lourenço escreve sobre o Abril islâmico».










Ora, o que realmente se pode ler (mas esta expressão encerra em si mesma todo um infindável questionamento...) neste magnífico artigo é provável que seja algo bem diverso do que uma simples declaração de boas vindas ao clube da modernidade iluminista das revoluções europeias de que a nossa, a portuguesa, teria sido a última. Se não, repare-se: «A nossa euforia e natural alegria com o Abril islâmico, vendo bem, é uma versão inconsciente da eterna vocação de querer "converter" ou ilustar os famosos infiéis»[sublinhados nossos].

Por isso, e assim termina o ensaio, «é mais interessante supor que [esses jovens revolucionários islamistas] já estão para além desse fosso, real mas não fatal, que em termos históricos e políticos se criou entre o Oriente e o Ocidente». Para o bem e o para o mal. Deles, certamente. Mas talvez sobretudo do nosso.