por Maria Graciete Besse*
Nos dias 9 e
10 de Abril de 2013 realizou-se em Paris o lançamento do livro Eduardo Lourenço et la passion de l’humain (ed.Convivium
Lusophone), fruto de um importante colóquio organizado em outubro de 2011, por
ocasião da inauguração das novas instalações da Fundação Gulbenkian na capital
francesa, que reuniu alguns dos especialistas do obra do grande pensador
português.
Fraterno e generoso,
tal como todos o conhecemos, Eduardo Lourenço esteve presente, primeiro numa
sessão que se desenrolou na Casa de Portugal – residência André de Gouveia, que
contou com a presença de mais de uma centena de membros da comunidade
portuguesa, e, no dia seguinte, no encontro que teve lugar no magnífico espaço
da Gulbenkian em Paris. Diante de um
público atento que o acolheu carinhosamente, o ensaísta falou do seu percurso que
começou na aldeia “encalhada na meseta
ibérica” onde nasceu, São Pedro de Rio
Seco, e o levou até às largas estradas do mundo, não deixando de evocar, com o
seu humor habitual, algumas peripécias que mais marcaram a sua vida de
intelectual nómada, afirmando que não se considerava propriamente um emigrante
por ter muito respeito por aquilo que os verdadeiros emigrantes sofreram. Sublinhando
a sua condição de exilado, analisou as marcas do destino português e mostrou-se
deveras preocupado com a crise actual,
deixando no ar uma sugestão de solidariedade colectiva.
O público
bebia-lhe as palavras, comovido, certo de estar diante de uma figura tutelar da cultura portuguesa, que não
pertence apenas às elites mas é capaz de falar ao coração de todos. No fim, o Professor
juntou-se à voz dos compatriotas que entoaram
em coro a “Trova do vento que passa”,
tocada por dois jovens músicos diplomados em Paris, e recebeu das mãos de um
escultor português, com barbas à Guerra Junqueiro, um cravo de pedra branca que
selava um pacto com a beleza e o sentimento de liberdade inerente à verdadeira
inteligência. A emoção prolongou-se na sessão do dia seguinte, tornando-se
intensa quando, depois de comentar alguns dos seus títulos mais conseguidos
como “o esplendor do caos”, Eduardo Lourenço discorreu sobre o tempo, a
condição humana e o sentido da vida, num misto de lucidez e melancolia,
deixando escorrer pela face uma lágrima furtiva que muitos captaram
dolorosamente como uma espécie de adeus. Mas logo um traço de humor quebrava o
estremecimento geral, porque a presença do grande intelectual português conduzia
todos aqueles que tiveram o privilégio de o escutar para um espaço de intensidade luminosa onde, apesar das incertezas, o
futuro se impunha como uma palavra de utopia ainda possível.
* Maria Graciete Besse, Professora Universitária de Língua, Literatura e História portuguesa na Sorbonne, Paris IV, organizou, com o dinamismo e a sabedoria habituais, o Colloque Eduardo Lourenço et la passion de l’humain, realizado em Outubro de 2011 na então recém-inaugurada nova sede da Fundação Gubenkian da capital francesa. A esse colóquio Ler Eduardo Lourenço dedicou à época vários textos que o visitante deste blog pode encontrar no respectivo arquivo. Ler Eduardo Lourenço agradece a Maria Graciete Besse esta magnífica crónica sobre a jornada do passado dia 9, realizada a pretexto do lançamento do volume das Actas do referido Colóquio, bem com as fotos que agora se dão a conhecer.