terça-feira, 5 de julho de 2011

Um blog é um acto de escrita

 
 
Quase meio ano depois do seu nascimento, Ler Eduardo Lourenço cai na tentação (pouco modesta, reconheça-se) de efectuar um pequeno balanço. O que começou por ser uma simples ferramenta de apoio ao trabalho de catalogação, digitalização e recolha de textos inéditos e dispersos de Eduardo Lourenço, realizado no âmbito do projecto da edição das Obras Completas, transformou-se progressivamente numa plataforma de divulgação de aspectos menos conhecidos (embora todos eles do domínio público) da figura e do pensamento do ensaísta. Desde o início que Ler Eduardo Lourenço afirmou que seria fundamentalmente aquilo que os seus visitantes quisessem que ele fosse e, de facto, o blog tem vivido muito da colaboração dos seus leitores, quer através dos seus comentários (que, por motivos editoriais, foi decidido manter num num plano reservado), quer através do envio de materiais inéditos, existentes no espólio de Eduardo Lourenço (cujo projecto de catalogação decorre no Centro Nacional de Cultura com a supervisão de João Nuno Alçada) ou na posse de outras pessoas, bem como de imagens, textos e comentários até hoje pouco difundidos. 
Como forma de assinalar os seus primeiros seis meses de existência, Ler Eduardo Lourenço recupera, a partir de um video de uma entrevista, concedida em 2009 durante a 10ª edição das Correntes da Escrita (http://www.rascunho.net/artigo.php?id=2400), as impressões do ensaísta acerca das relações entre escrita e os blogs. Assim, depois de elogiar o modo como o escritor espanhol Juan José Millás se referiu à circunstância de, nos dias de hoje, aos escritores ser preciso acrescentar a figura dos desescritores, Eduardo Lourenço afirma mais ou menos o que se segue: «Como toda a gente é potencialmente um escritor, isso é uma maneira de desertificar os escritores. Se toda a gente é escritor, ninguém é escritor. Os escritores até agora eram umas minorias de cada geração. Agora, com a nova civilização, as pessoas ascenderam todas a níveis culturais cada vez maiores, toda a gente se pudesse escreveria o seu blog, um blog é um acto de escrita». Depois à pergunta se gosta e se concorda com os blogs, Eduardo Lourenço, após dizer que já não é da idade da Internet, declara que os blogs, enquanto experiência de escrita, podem ser uma espécie de primeira etapa que, mais tarde, eventualmente, se converterá em livro. No entanto, confessa: «Não sou leitor de blogs, nem sou autor de blogs».