segunda-feira, 25 de julho de 2011

...falto de estudo profundo e demorado?



Embora a sua obra nem sempre tenha suscitado e suscite a unanimidade crítica (ao contrário do que, por vezes, se procura insinuar), a verdade é que o ensaísmo de Eduardo Lourenço colheu desde cedo públicos elogios. Foi o caso de Heterodoxia I logo em 1949, como já neste blog se referiu em texto anterior. No entanto, quatro anos depois, na Revista Portuguesa de Filosofia, publicação da Faculdade de Filosofia de Braga da Universidade Católica Portuguesa aparece uma recensão crítica, assinada por Cassiano Abranches, que em baixo se reproduz. Ler Eduardo Lourenço pode não concordar - e não concorda, de facto - com muitas das observações desta recensão, mas julga que se trata de um texto que tem, pelo menos, alguma relevância histórica. Por isso, com a devida vénia, eis aqui aquela que talvez seja uma das primeiras reacções públicas (parcialmente) negativas a um livro de Eduardo Lourenço.
ABRANCHES, C. “LOURENÇO, Eduardo Heterodoxia”, Bibliografia de Revista Portuguesa de Filosofia, nº 9, Braga, 1953, pp. 98-99.


Registe-se, entretanto, que, tanto quanto é dado a conhecer a Ler Eduardo Lourenço, a Revista Portuguesa de Filosofia não dedicou à obra e ao pensamento do ensaísta a atenção que seria de esperar, até porque se trata de uma publicação que, desde o seu início, assumiu como declarada opção editorial abrir as suas páginas aos pensadores portugueses. Como muito relativa excepção desta tendência editorial, assinale-se, para além desta recensão publicada em 1953, um estudo de Pedro Calafate com o título Figuras e ideias da Filosofia portuguesa nos últimos cinquenta anos, dado à estampa no número 51 da Revista, saído em 1995, e onde o autor tece diversas considerações, ao mesmo tempo pertinentes e elogiosas, acerca do ensaísmo de Eduardo Lourenço. Mas, pergunta-se, não será isto pouco se atendermos à magnífica longevidade da Revista Portuguesa de Filosofia? Pura distracção? Ou será que, por bandas da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica de Braga, se continua a achar que se trata este de um pensamento falto de estudo profundo e demorado?


Pedro Calafate (foto em fl.ul.pt)