Gastão Cruz |
Com efeito, há cerca de ano e meio os investigadores e poetas Luis Maffei e Pedro Eiras deram à estampa um conjunto de ensaios que tem de tanto de invulgar como de aliciante. Trata-se de A Vida Repercutida – Uma Leitura da Poesia de Gastão Cruz (Lisboa, Esfera do Caos, 2012). Nele o leitor encontra ainda, além de uma antologia de poemas e de um ensaio inédito do autor de A Morte Percutiva, uma iniciativa que é, no mínimo, muito curiosa. De facto, Pedro Eiras e Luís Maffei desafiaram uma série de leitores de Gastão Cruz a elaborar uma questão ao poeta que, deste modo, concede uma muito peculiar e relevante entrevista. Eduardo Lourenço encontra-se entre os questionadores de Gastão Cruz que, assinale-se, já dedicou à obra do autor Pessoa Revisitado alguns textos decisivos. Que pergunta escolheu Eduardo Lourenço para dirigir a Gastão Cruz? Vale a pena recuperá-la.
Ei-la: Reconhece alguma dívida para com a poesia neo-realista? Qual é, ainda hoje, a sua visão dessa poesia?
A pergunta só por si justificaria vários ensaios, mas Ler Eduardo Lourenço considera também absolutamente modelar a breve resposta (pouco mais de duas páginas) do poeta e, convém lembrar os mais esquecidos, um dos maiores conhecedores da poesia portuguesa do século XX e não só. Modelar pelo rigor e pela clareza. Pela informação que discretamente manifesta (o episódio Mário Cesariny tem tanto de delicioso como de teoricamente revelador) e pela síntese admirável que oferece do chamado neo-realismo nas suas diferentes vozes e modulações. E sobretudo porque abre uma hipótese de leitura que parece tentadora: fazer um confronto entre as poéticas de Eduardo Lourenço e de Gastão Cruz a partir das interpretações que ambos fazem dos poetas do Novo Cancioneiro que encontraram na revista Vértice, de que Eduardo Lourenço foi um dos primeiros responsáveis e onde chegou a publicar um poema no famoso e decisivo número 3, um simbólico porto de abrigo.
foto Ler Eduardo Lourenço |