Por mais que faça, [André] Gide só cria tipos imorais e não amorais. Jorge Amado, afundando-os no crime, conserva-lhes uma pureza estranha [pois] até esses cabras e terríveis coronéis têm a sua intimidade, as suas decepções amorosas de homens comuns (1945).
Quando vim para o Brasil a cultura era apenas livresca, isto é, feita através de leituras e como toda a minha geração – e já vinha um pouco da geração anterior – estávamos a par do que naquela altura era novidade: o impacto (…) da literatura (…) brasileira (…): pertenço a uma geração para a qual Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz eram presenças muito vivas no contexto cultural português. Era uma novidade pois era uma literatura diferente da que, naquela altura, se fazia na Europa (…). (…) Quando cheguei [à Bahia] (…) comecei a achar que o Jorge Amado tinha sobretudo um ouvido absoluto … ele captava instintivamente aquele falar da Bahia e aqueles seus personagens já me pareciam menos extraordinários do que antes, porque, de facto, os seus personagens andavam na rua (…). Vim ali encontrar, ao fim de um ano, os personagens reais dos romances de Jorge Amado (2000).
O Brasil é um país para quem Portugal é um ponto vago num mapa maior chamado Europa, ou vaga reminiscência escolar do sítio donde há séculos chegou um certo Álvares Cabral (1999).
Uma comunidade linguística não é um casaco que possa esquecer-se em qualquer canto, é uma pele comum queimada aqui e ali por sóis diferentes (1954).
foto Ler Eduardo Lourenço
Uma comunidade linguística não é um casaco que possa esquecer-se em qualquer canto, é uma pele comum queimada aqui e ali por sóis diferentes (1954).
foto Ler Eduardo Lourenço