quarta-feira, 15 de julho de 2015

Habitante da aventura poética



Eduardo Lourenço relendo, com alguma surpresa, uma primeira edição do livro Tempo e Poesia. Na contracapa desta edição de 1974 aparece uma imagem do Autor que, segundo ele mesmo, faz lembrar... Arthur Miller! (foto  de Teresa Filipe)
Decorreu, anteontem, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a última reunião preparativa da edição do III Volume das Obras Completas de Eduardo Lourenço que terá como título simplesmente Tempo e Poesia. Organizado em torno do livro homónimo publicado em 1974 na editora portuense Inova, cujo texto aparece agora definitivamente fixado, expurgadas que foram gralhas e imprecisões constantes das suas impressões precedentes, este tomo (sem dúvida mais extenso do que os dois anteriores, respectivamente Heterodoxias e Sentido e Forma da Poesia Neo-realista e Outros Ensaios) apresenta novos e indiscutíveis motivos de interesse, pois para além de reunir um vastíssimo número de textos dispersos dedicados à poesia (como se sabe, temática decisiva no percurso ensaístico de Eduardo Lourenço) e a quase todos os nomes mais relevantes da poesia portuguesa do século XX, integra um conjunto considerável de textos inéditos, agora revistos e nalguns casos concluídos exclusivamente para esta edição pelo Autor. A título meramente de exemplo, neste novíssimo e aumentado Tempo e Poesia, o leitor encontrará ensaios nunca antes publicados sobre a poesia de Eugénio de Castro, Adolfo Casaes Monteiro, Raul de Carvalho, Maria Teresa Horta ou Salette Tavares. Para além disso, aqui aparecem também reunidos, numa espécie de jogo de luz e sombra que permite novas e revigorantes leituras, todos os estudos que o ensaísta dedicou à poesia de nomes tão incontornáveis como Teixeira de Pascoaes, José Régio, Miguel Torga, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner ou António Ramos Rosa, entre tantos outros.
Dado que, como se sabe, no livro Tempo e Poesia apareceu pela primeira vez, na sua versão completa e definitiva, o ensaio "Presença ou a Contra-Revolução do Modernismo Português?", entendeu o Autor que seria pertinente integrar neste volume das Obras Completas todos os estudos que publicou acerca do modernismo português, designadamente aqueles onde medita sobre as relações entre Orpheu e a Presença. Esta secção do novo Tempo e Poesia permite revisitar, no ano em que se comemora o primeiro centenário da emblemática revista do chamado primeiro modernismo português, aquela que foi seguramente uma das interpretações mais marcantes que se fizeram no último século deste acontecimento maior da cultura portuguesa.
Tratando dos últimos pormenores da edição do III Volume das Obras Completas: da direita para a esquerda,  Eduardo Lourenço, Carlos Mendes de Sousa e João Tiago Lima (foto de Teresa Filipe)
O terceiro volume das Obras Completas foi coordenado por Carlos Mendes de Sousa, investigador e professor da Universidade do Minho e um dos maiores especialistas da poesia portuguesa contemporânea, que assina também uma extraordinária introdução, intitulada "Eduardo Lourenço, habitante da aventura poética", peça doravante insubstituível nos estudos sobre o ensaísta de Tempo e Poesia. Entre muitas outras informações grandemente relevantes, Ler Eduardo Lourenço destaca as revelações que Carlos Mendes de Sousa faz, a partir da correspondência ainda inédita entre Eduardo Lourenço e Eugénio de Andrade, e que mostram com o livro publicado em 1974 nunca teria sido impresso sem a amigável e quase obstinada insistência do poeta de As Mãos e os Frutos
Esta muito produtiva reunião não encerrou sem a primeira planificação do quarto volume das Obras Completas, mas sobre essa e outras informações respeitantes ao novo Tempo e Poesia, que chegará às livrarias no próximo Outono, falará Ler Eduardo Lourenço depois do período estival. Até lá, aqui se deixam os desejos de umas óptimas e refrescantes férias!