quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Chroniques de la Rive Gauche nº 2- Robert Bréchon

Robert Bréchon

Ler Eduardo Lourenço prossegue hoje as suas chroniques parisienses. Outro momento muito alto do Colloque Eduardo Lourenço - La passion du humain, que contou com a presença de muitos jovens estudantes da Sorbonne interessados na cultura portuguesa, foi sem dúvida a comunicação de Robert Bréchon. Aquele que é justamente considerado um dos maiores especialistas mundiais de Fernando Pessoa evidenciou, numa síntese emocionante, não só a importância que a obra do poeta de Ode Marítima tem no percurso intelectual de Eduardo Lourenço, como o modo como as leituras do ensaísta se revelaram decisivas na sua (de Bréchon) compreensão do universo pessoano. Bréchon tem hoje 91 anos, mas o seu humor e a sua simplicidade desarmantes são característicos de uma inteligência e de uma sagesse sempre renovadas. Chapeau!, Monsieur Robert.
A seguir, Ler Eduardo Lourenço reproduz, com a devida vénia, a recensão crítica que, em Novembro de 1974(!), Robert Bréchon publicou na revista Colóquio-Letras a Pessoa Revisitado. Trata-se de um texto notável pelo rigor e pela concisão da leitura que apresenta.



quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Chroniques de la Rive Gauche nº 1- Cleonice

Ler Eduardo Lourenço inicia hoje uma série de posts alusivos ao Colloque Eduardo Lourenço - La passion du humain, realizado na passada semana nas novas instalações da Gulbenkian em Paris, mais precisamente no número 39 da Boulevard de la Tour Maubourg, ou seja, na margem esquerda do Sena. Importa começar por dizer que o evento só foi possível devido ao empenho dos organizadores, Maria Graciete Besse (Professora na Sorbonne) e João Pedro Garcia (Director da delegação parisiense da Fundação), magnificamente secundados por Maria Teresa Salgado. Não se trata aqui de reproduzir as comunicações apresentadas (que serão em breve reunidas em livro), mas apenas de destacar alguns dos momentos mais relevantes destes dois dias em Paris. Daí que esta primeira chronique tenha de ser dedicada a uma das participantes mais especiais do Colloque. Cleonice Berardinelli é professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sendo certamente uma das principais responsáveis pela atenção que os universitários brasileiros dedicam à literatura portuguesa. Autora de uma Obra imensa, foi também Cleonice quem propôs o doutoramento honoris causa de Eduardo Lourenço pela sua Universidade. Encontrando-se a recuperar de alguns problemas de saúde que a impedem de viajar com a frequência desejada, Cleonice Berardinelli fez questão de atravessar o Atlântico para saudar o seu Amigo Eduardo Lourenço. E o modo como o fez, não poderia ter sido mais comovente. O Colloque iniciou-se assim com a leitura de um texto luminoso, impossível de sintetizar tal a forma como nele se cruzam uma inteligência e uma sensibilidade verdadeiramente singulares. E Eduardo Lourenço não deixou de, por mais de uma vez, manifestar quanto esse momento o sensibilizou. Ler Eduardo Lourenço assinala o raro acontecimento reproduzindo um video, realizado no Brasil em 2010, onde Cleonice Berardinelli lê admiravelmente dois poemas de ... Fernando Pessoa.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Carlos de Oliveira, no centro da vida.

Para os que lamentaram a sua ausência (por motivos de saúde), no Colóquio Internacional dedicado a Carlos de Oliveira, Eduardo Lourenço abre agora a  revista pessoa - numa excelente edição bilingue - em número dedicado a esse autor e à ocasião (pessoa, Revista de Ideias, nº4, edição da Casa Fernando Pessoa e Câmara Municipal de Lisboa, Setembro 2011). O texto, que com a devida vénia Ler Eduardo Lourenço transcreve, é uma celebração da memória do autor de Uma Abelha na Chuva, "ícone canónico do neo-realismo", mas "bem longe dos seus chavões literários". Carlos de Oliveira "ficou inteiro nos seus poemas" onde ilustrou "uma poética materialista não no sentido ideológico do século XIX onde o seu imaginário se alimentou, mas realista e paradoxalmente matérica como a terra que descreveu como criadora da gesta em busca do fogo central que continua a consumi-la. Como se estivesse a ponto de descer ao centro da vida como um herói de Júlio Verne".


Eis o passo final da citação que Eduardo Lourenço selecciona para a revista:
 "Ocorreu-lhe então esta ideia, que o gelou de pavor: quem sabe se ela não é a própria morte a insinuar-me dia a dia a miséria de viver, uma missão de Deus junto de mim para que eu entenda que tudo é passageiro e inútil e de livre vontade renuncie a tudo. (...) Nunca entendera verdadeiramente." Uma Abelha na Chuva, in Obras de Carlos de Oliveira, edição Camilho, Lisboa, 1992.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

39, Boulevard de la Tour Maubourg

É já amanhã que a renovada delegação da Fundação Calouste Gulbenkian abre as suas portas. Situada na margem esquerda do Sena, no número 39 da Boulevard de la Tour Maubourg, num edifício construído em 1869 e que foi agora objecto de uma intervenção por parte da arquitecta Teresa Nunes da Ponte, a nova casa da fundação acolherá também aquela que é considerada uma das mais ricas bibliotecas de língua portuguesa fora de Portugal e do Brasil. No quadro de um programa de actividades muito variado, Ler Eduardo Lourenço tem de destacar, nos próximos dias 20 e 21 (quinta e sexta), o Colloque Eduardo Lourenço et la passion du humain, de aqui se falou há algumas semanas. Por agora apenas algumas imagens, retiradas do site http://www.gulbenkian-paris.org/, para abrir o apetite.



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Tudo quanto há em mim de rusticidade social e de inconsciente cristão...

«Seria possivelmente uma reflexão arcaica em torno da caoticidade eufórica que constitui hoje a pulsão cultural do Ocidente e contra a qual tudo quanto há em mim de rusticidade social e de inconsciente cristão eticamente se insurge. Sem ilusões».




Capela de São Pedro do Rio Seco (foto de Ler Eduardo Lourenço)

Foi assim que, em 1 Novembro de 1987, Eduardo Lourenço respondeu a Francisco Belard quando, em entrevista depois publicada em A Phala, lhe foi perguntado o que poderia ser então uma Heterodoxia III. Recorde-se que, para além desta conversa realizada por escrito por altura da primeira reedição dos dois volumes de Heterodoxia na Assírio & Alvim, Eduardo Lourenço concedeu nessa época uma outra entrevista, com o sintomático título “Um heterodoxo confessa-se” [entrevista por Vicente Jorge Silva e Francisco Belard, Suplemento Revista de Expresso, Lisboa, 16/I/1988, pp. 24-31. Texto reimpresso em GIL, José e CATROGA, Fernando, O ensaísmo trágico de Eduardo Lourenço, Lisboa, Relógio d’água Editores, 1996, pp. 44-75].





Francisco Belard (http://www.casadaleitura.org/)

Ler Eduardo Lourenço sugere, assim, aos jornalistas mais preguiçosos ou menos atentos que uma boa questão para colocar, hoje, ao ensaísta, quando se aproxima a passos largos a data da publicação do primeiro volume das Obras Completas com o título de Heterodoxias talvez seja mesmo esta: o que significa ser Heterodoxo em 2011?

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Género Intranquilo

Foram conhecidos há pouco os autores distinguidos com o prémio PEN Clube referente ao ano transacto. Assim, na categoria de narrativa foi escolhido como vencedor o romance Peregrinação de Enmanuel Jhesus de Pedro Rosa Mendes. Na categoria de poesia, o júri distinguiu o livro Necrophilia de Jaime Rocha , obra escolhida por Francisco Belard, Liberto Cruz e Manuel Frias Martins. No que diz respeito ao ensaio, os jurados Maria João Reynaud, Álvaro Manuel Machado e Fernando Cabral Martins optaram por consagrar dois livros: Jorge de Sena: Sinais de Fogo como Romance de Formação, de Jorge Vaz de Carvalho, e O Género Intranquilo: Anatomia do Ensaio e do Fragmento, de João Barrento. Ler Eduardo Lourenço não costuma pronunciar-se acerca da justeza dos prémios literários, mas, desta feita, não pode deixar de exprimir a sua satisfação pelos dois ensaios premiados. Compreender-se-á o motivo deste entusiasmo, pois se, no caso da obra de (e sobre) Jorge de Sena, as relações com o pensamento de Eduardo Lourenço têm sido frequentemente assinaladas neste blog, em relação ao ensaísmo de João Barrento esse mesmo diálogo não tem sido menos importante. No livro agora premiado, O Género Intranquilo (e que, recorde-se, foi apresentado no seu lançamento, em Outubro do ano passado, por... Eduardo Lourenço!) encontra-se, para além de um interessantíssimo capítulo chamado “O ensaio em Portugal: Sociologia de um género sem género”, uma nova versão do texto “As pedras brancas”, baseado na comunicação apresentado pelo autor no Colóquio Internacional Eduardo Lourenço (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Outubro de 2008), mas que contém ligeiríssimas modificações em relação ao que, entretanto, foi publicado na revista Colóquio-Letras. A (re-)ler, sem qualquer dúvida.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

«A água da realidade transfigurou-se em escrita...



que não se perde como ela no oceano do tempo.»




É com esta magnífica frase que Eduardo Lourenço encerra o ensaio intitulado “Os mediadores” que a revista Ler publica na sua edição deste mês a propósito da saída na Caminho do Dicionário Luís de Camões, organizado por Vítor Aguiar e Silva que, de resto, em entrevista concedida a Carlos Câmara de Leme, considera Eduardo Lourenço, juntamente com Cleonice Berardinelli, [Américo da] Costa Ramalho e Maria Helena da Rocha Pereira, um «dos grandes camonistas vivos» (Vítor Aguiar e Silva, “Camões amedronta qualquer um”, Ler.Livros & Leitores, nº 106, Outubro de 2011, p. 43). O texto “Os mediadores” (ilustrado por um pormenor do quadro de Francisco Metrass Luís de Camões na Gruta de Macau, que aqui se reproduz na íntegra) não deixa de ter algum paralelismo com o capítulo de Fernando, Rei da Nossa Baviera “A fortuna crítica de Fernando Pessoa”, pois é uma reflexão acerca dos laços que se tecem entre Os Lusíadas e as leituras que, historicamente, o foram mediando.



Deste modo, o ensaio começa logo por equacionar os dados em questão. «Uma Obra (...) não tem leitura fora daquela que os seus leitores instituem, lendo-a e interpretando-a e jogando nela a sua perspicácia e imaginação». O princípio que assim se enuncia, acerca de um poema que o seu Autor ofereceu à sua pátria para ser «o espelho da sua alma», talvez seja válido como chave de leitura para o ensaísmo do próprio Eduardo Lourenço. Mas isso é assunto para outra ocasião. Por agora, Ler Eduardo Lourenço limita-se a aconselhar a compra da Ler deste mês.