Acerca de Eduardo Lourenço e dos Poetas, Carlos Mendes de Sousa fala de
uma «projecção desejante», talvez traduzida numa «tensão – entre o recuo
e a paixão – que pensa (vive) a poesia dos outros» (“Eduardo Lourenço: a
cidade, o poema”, Relâmpago, nº 22, 2008, p. 93). Daí a
recorrente confissão, onde o humor não oculta ainda assim uma verdade mais profunda,
do ensaísta sobre o seu sonho de ser poeta. No entanto, é bom lembrar
que um dos primeiros textos publicados por Eduardo Lourenço foi,
precisamente, um poema. De facto, no número terceiro da revista Vértice,
publicado em Fevereiro de 1944 (tinha o Autor vinte e um anos!), o
leitor encontra na página 9 um breve poema com o título “Aceitação”. Não
será com certeza por causa destas quase adolescentes dez linhas que
Eduardo Lourenço inscreve o seu nome entre as páginas mais importantes
da cultura portuguesa contemporânea. No entanto, “Aceitação”, tal como
outros textos do período a que Eduardo Lourenço chama “Tempo da Vértice”,
constitui decerto um dos múltiplos motivos de interesse de Sentido e a Forma da Poesia Neo-Realista e outros ensaios, o segundo volume das Obras Completas
que, dentro de semanas chegará às livrarias. Nesse volume, que conta
com um texto introdutório de António Pedro Pita com o título “Inventar o
Sentido do Tempo – Eduardo Lourenço e o «neo-realismo» como problema”,
poderá o leitor regressar a uma cidade e tempo mágicos, a Coimbra dos
anos Quarenta, e (re-)descobrir as origens daquele que é também um Escritor de um Poema
Só.